Por: Bruno Amorim

Você tem medo de barata? Muita gente grita, sai correndo ou sobe em cima de um móvel ao ver um desses pequenos insetos. Eles são mesmo nojentos e podem transmitir doenças. Ter medo ou nojo desses bichos é normal e bastante comum em todo mundo. Acabar com elas é que é difícil. Afinal elas estão andando pelo mundo há muito tempo.

Ilustração:Sergio Magalhães

Ilustração:Sergio Magalhães

Pestes cosmopolitas

Existem cerca de 4.500 espécies de barata, todas fazem parte da ordem Blattaria. Destas, menos de 1% vive próximo aos seres humanos. Por causarem prejuízos, algumas espécies são consideradas pragas. Além disso, carregam em suas patas microorganismos causadores de doenças, como diarréia e infecção intestinal. São justamente estas as espécies mais comumente encontradas nas cidades.

A: barata-germânica, B: barata-americana. Fonte: Wikipedia.

A: barata-germânica, B: barata-americana. Fonte: Wikipedia.

A barata-americana (Periplaneta americana) é a espécie mais numerosa. Com um tamanho grande – 4cm –, essas são as campeãs quando se trata de assustar gente. Quando uma delas entra voando por uma janela, quem tem medo de barata sai correndo pela porta. Apesar do nome, essa espécie veio da África. Mas, elas se esconderam em navios e se espalharam pelo mundo. Portanto, graças ao ser humano, atualmente podem ser encontradas em todas as regiões de clima tropical.

A barata-germânica (Blatella germanica) é pequena – 1,5cm – e não voa, mas deixa muita gente de cabelo em pé. Além disso, por caber em espaços menores, pode ser mais difícil de se combater do que espécies maiores. Também é conhecida como baratinha e francesinha. É a espécie mais comum ao redor do mundo. Originária da Ásia, ela se espalhou pegando carona em meios de transporte humanos, e provavelmente chegou à Europa em caravanas, muitos séculos atrás.

Noturnas, preguiçosas e beberronas

Barata-americana. Foto: Wikipedia.

Barata-americana. Foto: Wikipedia.

Baratas não gostam de luz e só costumam sair à noite, quando procuram comida e parceiros sexuais. Você só verá uma barata durante o dia, se houver uma superpopulação ou falta de alimento e água. Mas, é preciso lembrar que, para cada barata avistada, existem dezenas escondidas.

As baratas são muito preguiçosas, e passam 75% do seu tempo paradas, sem fazer nada. Se não encontrarem comida nas poucas horas em que resolvem se mexer, não há problema. Elas conseguem ficar dias sem comer ou beber água.

Além disso, esses insetos não são exigentes em relação à sua dieta. São onívoros e comem praticamente tudo, incluindo outras baratas. Adoram doces, alimentos gordurosos e de origem animal – como carne, leite e queijo. Mas, qualquer resto de comida é o suficiente para alimentá-los, e se não encontrarem comida, são capazes de ficar até três dias sem comer.

A espécie P. americana adora bebidas alcoólicas, principalmente cerveja. Talvez a expressão barata tonta venha do jeito desengonçado desses insetos andarem quando estão bêbados. Ou seja, baratas são beberronas.

Baratas fósseis

Fóssil da barata atual. Fonte: Wikipedia.

Fóssil da barata atual. Fonte: Wikipedia.

O fóssil mais antigo de um desses insetos tem mais de 300 milhões de anos. Isso quer dizer que, além de serem muito mais antigas do que os seres humanos, as baratas são mais antigas do que os dinossauros. Enquanto esses répteis gigantes foram extintos, as baratas sobreviveram até hoje, e até mesmo com inseticidas modernos é difícil acabar com elas.

Contudo, essas baratas fósseis diferiam das atuais por apresentarem ovipositores (um órgão usado por insetos para depositar os ovos) externos longos. Os primeiros fósseis das baratas atuais surgiram no início do período cretáceo.

Limpando a casa

Quem tem medo, pensa até em mudar de casa se encontrar com alguma baratinha. Mas, mesmo quem não sente medo de baratas, não quer vê-las em sua casa. Afinal, a presença de baratas indica um local sujo. Com tanto lixo e sujeira sendo produzidos pelo ser humano, elas simplesmente não resistem e fazem um ninho perto da gente.

Portanto, a melhor forma de evitar esses insetos é manter a casa bem limpa. Lave a louça logo após a refeição, não deixe restos de comida ou sujeira espalhados e limpe bem a casa, principalmente a cozinha e o banheiro. Desta forma, as baratas vão simplesmente procurar um local mais sujo, deixando você em paz.

Guerra química e baratas mutantes

Entretanto, se mesmo limpa, a sua casa continuar infestada por baratas, a melhor solução é a guerra química. Ou seja, fazer uma dedetização completa, atacar com inseticida ou espalhar armadilhas venenosas.

Barata francesinha. Foto: Wikipedia.

Barata francesinha. Foto: Wikipedia.

Isso funciona por um tempo. Mas, as baratas podem voltar e, se você continuar usando inseticidas, no futuro podem aparecer baratas resistentes, que não vão morrer quando atacadas com esses venenos. A razão disso é que as baratas também continuam evoluindo.

Em uma população de baratas, algumas poucas são resistentes a inseticidas devido a mutações. Enquanto a maioria das baratas morre, as poucas baratas mutantes resistentes sobrevivem, se o inseticida estiver sendo usado no ambiente. Então elas se reproduzem e passam os genes mutantes responsáveis pela resistência a inseticidas para as gerações seguintes.

Considerando a reprodução acelerada desses insetos, percebemos que pode levar pouco tempo até que o número de baratas em um local cresça novamente. Se então, usarmos inseticida novamente, estaremos mais uma vez selecionando as baratas mais resistentes, enquanto matamos as outras.

Assim, em alguma gerações, todas as baratas passam a ter o gene responsável pela resistência. Depois disso, não adianta mais usar o mesmo inseticida. Será preciso utilizar um veneno diferente ou chamar um especialista em exterminação de insetos para procurar e destruir o ninho.

Outra forma de combater as baratas é ter um gato em casa. Os gatos possuem instintos de caçadores e as baratas são ótimos alvos para bichanos. Eles correm atrás, matam esses insetos e os comem. Um gato não vai ser capaz de acabar com todas, mas vai diminuir o número de baratas em sua casa.

Consultoria: Fabíola Mayrink e Miguel de Oliveira – Museu da Vida

Data Publicação: 23/11/2021