Em novembro de 1986, uma nova doença foi descrita nos rebanhos bovinos do Reino Unido. Animais tornavam-se mais arredios e isolados, recusando-se a passar em porteiras ou entrar em espaços estreitos. Ficavam mais sensíveis aos sons e moviam as orelhas rapidamente, rangendo os dentes e se lambendo de modo repetitivo. Em pouco tempo, mesmo animais mansos se tornavam agressivos e agitados. Os sintomas evoluíam, afetando a coordenação motora e, em seguida, levando os animais a ficaram deitados. A maior parte deles morria entre um e dois meses após o início dos sintomas. E embora muitos animais fossem atingidos, a doença não passava diretamente de um para outro.

A análise dos animais mortos mostrou que os sintomas eram causados por lesões no sistema nervoso central (encéfalo e medula espinal). Visto ao microscópio, o cérebro do gado tinha um aspecto esponjoso, com inúmeros “buracos” entre as células. Por isto, a doença foi chamada de encefalopatia espongiforme bovina (EEB). Os sintomas, no entanto, deram origem ao nome popular: doença-da-vaca-louca.

Células normais do cérebro de um rato (esquerda) e células afetadas por príons (direita). Observe a presença de pequenos “buracos” em branco. As células foram coradas e fotografadas em um microscópio de luz.

Células normais do cérebro de um rato (esquerda) e células afetadas por príons (direita). Observe a presença de pequenos “buracos” em branco. As células foram coradas e fotografadas em um microscópio de luz.

Centenas de testes indicaram que a nova doença não era provocada por nenhum vírus, bactéria, fungo ou protozoário. A causa era um príon, uma proteína anormal capaz de se propagar, causando danos às células e morte do organismo.

As pesquisas mostraram que, embora surgisse abruptamente, o período de incubação da doença era de 5 anos em média. O que teria feito uma doença nova surgir entre o gado?

Uma das hipóteses indicava que a EEB seria uma variante de outra doença que levava ovelhas a se coçar e se esfregar em arbusto. Batizada de scrapie (do verbo inglês, to scrape: coçar), a doença era conhecida desde 1730 e também afetava o sistema nervoso central dos animais. Mas como uma doença de ovelhas teria contaminado vacas?

A resposta estava na alimentação dos animais. A ração do rebanho bovino provavelmente continha farinha de carne e ossos contaminada com príons de alguma variedade de scrapie (alterações no processo de fabricação da ração podem ter contribuído para a disseminação do príon). Outra hipótese, é de que a EEB seria uma doença incomum e ainda desconhecida das vacas que teria se disseminado pelos rebanhos. De qualquer modo, para evitar novos casos, em 1990 uma lei proibiu que animais ruminantes fossem alimentados com farinha de carne e ossos de outros ruminantes.

Entre 1986 e 2004, mais de 180 mil casos de EEB foram confirmados apenas no Reino Unido. Há casos em diversos outros países, na Europa e fora dela. Em 2014, um caso isolado de EEB foi notificado no Brasil, em Mato Grosso. Por se tratar de ocorrência isolada, a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) classifica o Brasil como país de risco insignificante para a doença.

Para acompanhar dados atualizados sobre o número de casos de EEB em diversos países do mundo (incluindo o Brasil), acesse: http://www.oie.int/en/animal-health-in-the-world/bse-situation-in-the-world-and-annual-incidence-rate/10-13-number-of-reported-cases-worldwide-excluding-the-united-kingdom-copy-1/

Fontes consultadasREECE, JANE. et ali. Biologia de Campbell. Porto Alegre: Artmed, 2015. 10 ed.

ALBERTS, BRUCE. et ali. Biologia molecular da célula. Porto Alegre: Artmed, 2010. 5 ed.

Rhodes, Richard. Banquetes Mortais. Ed Campus, 1998.

Data Publicação: 29/11/2021