Por: Bruno Delecave

 A oposição de cores, luz e sombra ou massa destaca os valores de uma obra de arte. Este tipo de oposição também é chamado de contraste. Artistas utilizam diferentes técnicas para criar contraste em seus trabalhos. Venha, a partir de um breve passeio pela história da arte, entender algumas relações de contraste entre cores criadas ao longo do tempo.

Ceia em Emaus. Caravaggio, 1601

Ceia em Emaus. Caravaggio, 1601

O Claro-escuro de Caravaggio

A oposição entre luz e sombra se desenvolve entre dois pólos: preto e branco. A distância entre esses dois pólos é gigantesca. Artistas como Caravaggio (1571-1610) eram capazes de explorar este amplo espaço graças ao conhecimento de perspectiva e do efeito físico da luz e das sombras sobre objetos.

O contraste entre as cores dos corpos e do cenário substitui as linhas de contorno na pintura. Essa utilização de luz e sombras ficou conhecida como chiaroscuro (claro-escuro em italiano).

Impressionismo, cores frias e quentes

Você já ouviu falar em cores quentes e cores frias? As cores quentes são as cores do fogo, do sol e do verão. Enquanto as cores frias estão na água, no céu, nas árvores e na paisagem do inverno. Juntos, quente e frio criam contraste.

A maior parte das flores tem cores quentes. Como na natureza predominam as cores frias, as flores se destacam. Isso atrai diversos tipos de animais necessários para a reprodução das flores – os polinizadores. Artistas se utilizam desse efeito atrativo para dar beleza a suas obras.

Impressão, nascer do sol. Monet, 1872

Impressão, nascer do sol. Monet, 1872

O impressionismo foi o movimento artístico responsável por romper com tradições e abrir espaço para arte moderna. Para os impressionistas, o importante era pintar o que se via. Para isso pintavam ao ar livre e focavam sua atenção na cor e na luz.

Claude Monet (1840-1926) e outros membros desse movimento dividiam as pinceladas, tornado-as menores. Para os impressionistas, as cores servem para pintar a luz e a impressão causada por ela na realidade.

Para criar harmonia nas telas, esses pintores misturavam cores quentes e frias. No quadro Impressão, nascer do sol – que deu nome ao movimento –, Monet pinta cores quentes sobre o mar, pois este reflete o vermelho do sol poente.

As cores intensas do pós-impressionismo

A noite estrelada. Van Gogh, 1889

A noite estrelada. Van Gogh, 1889

Os pós-impressionistas faziam experimentos altamente pessoais utilizando os conhecimentos dos impressionistas sobre luz e cor. Paul Gauguin (1848- 1903) usa cores intensas, não-realistas. Vincent Van Gogh (1853- 1890) pinta com vigor e sem contornos e faz um uso psicológico das cores.

Ambos também são considerados precursores do Fauvismo, pois favorecem os próprios sentimentos, ao deformarem a realidade. Os sentimentos dos artistas são expressos, nas telas, pela escolha de cores.

Cores selvagens e o Modernismo

A dança. Matisse, 1910

A dança. Matisse, 1910

Durante a primeira metade do século XX, surgiram inúmeros movimentos artísticos – cubismo, futurismo, abstracionismo, surrealismo… Cada um levou a pintura para uma nova direção. As inovações deste período revolucionaram o mundo da arte. Desde então, as cores passaram a ser desvinculadas da realidade, podendo ser utilizadas para expressar emoções ou a personalidade do artista.

Um destes movimentos foi o fauvismo. O termo vem de fauve, isto é, fulvo – a cor dourada ou castanho avermelhada da pelagem dos animais selvagens. Ele foi usado pejorativamente por um crítico de arte, referindo-se aos integrantes do grupo como feras selvagens por seu uso de cores agressivas, nada realistas. Apesar de durar pouco tempo – três anos – a escola foi muito influente. Um de seus líderes, Henri Matisse (1869-1954) foi muito influenciado pelos pós-impressionistas. Ele continuou produzindo até o fim de sua vida, muito depois do fauvismo acabar.

Modernismo tardio e as cores complementares

Alom. Vasarely, 1966

Alom. Vasarely, 1966

Em 1960, surgiu mais um movimento – a Op Art. O nome significa arte ótica, pois seus membros utilizavam cores complementares ou contrastantes, perspectiva e luz para criar ilusões óticas. Por causa das cores escolhidas, as pinturas de Victor Vasarely (1908-1997) parecem vibrar, criando ilusões de movimento.

Saiba mais:

A ciência das cores

Os significados das cores

Por que o céu é azul?

Consultoria: Sérgio Magalhães. Museu da Vida – Fiocruz.

Fonte: PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente.

Data Publicação: 02/12/2021