Fig 1. Trump Casa Branca em 03/09/2025. Crédito: Andrea Hanks/Fotos públicas

Saiba por que ações do presidente Donald Trump e do governo dos EUA podem atrasar programas de vacinação e tratamento, entre outros prejuízos

Em novembro de 2024, Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos (EUA). Antes disso, ele já havia presidido o país entre 2017 e 2021. A reeleição deixou em alerta não apenas os EUA, mas todo o mundo. Mais uma vez, o país de maior influência econômica e política do globo passou a ser chefiado por um governante que defende valores conservadores e nacionalistas. E por que estamos falando disso? Como veremos adiante, o governo Trump está impactando o mundo de várias formas, inclusive a saúde global.

Logo em seu discurso de posse, em janeiro de 2025, ele anunciou novidades que causaram espanto na comunidade científica. O governo passaria a estimular o uso de combustíveis fósseis, por exemplo, carvão mineral, petróleo e gás natural nos EUA. Também promoveria a saída da nação do Acordo de Paris, tratado internacional que estabelece metas para limitar o aquecimento global e seus impactos no planeta. Ambos os planos seguem uma tendência contrária ao esforço global para reduzir os efeitos das mudanças climáticas no mundo.

Outro anúncio que gerou grande preocupação foi que os Estados Unidos deixariam de participar da Organização Mundial da Saúde (OMS), braço da Organização das Nações Unidas (ONU) voltado para a saúde global. Vamos destrinchar aqui quais foram os impactos da nova presidência americana na saúde, tanto nos EUA quanto no mundo, neste primeiro ano de governo de Donald Trump.

 

EUA fora da OMS

Você deve se lembrar do termo “OMS” da época em que vivemos um aumento de casos de Covid-19. Foi a OMS que “decretou a pandemia” em março de 2020. E muito se falou nessa organização naquele ano, justamente porque o fato de uma doença contagiosa estar se espalhando por diversos países pedia uma organização a nível mundial. Vimos na prática como os estados atuaram de forma colaborativa, compartilhando testes, vacinas, tratamentos e protocolos.

Mas já parou pra pensar como a OMS conseguiu articular tantas ações? Essas e tantas outras medidas que ela implementa só são possíveis porque os países-membros dessa organização fazem contribuições em dinheiro para que ela possa funcionar. Os Estados Unidos contribuíam com cerca de 20% do orçamento anual da organização. Mas o cenário mudou com o governo Trump.

Em 20 de janeiro de 2025, primeiro dia como presidente, ele assinou um decreto iniciando a retirada dos EUA da OMS. Um dos motivos alegados foi uma suposta má gestão da pandemia. Também alegou que a organização teria sofrido influência política dos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) naquela época. Além disso, considerou que a contribuição dos EUA era “injusta”. Assim, veio o anúncio de que o país sairia da organização em 12 meses, ou seja, em janeiro de 2026. E quais são as consequências disso?

 

Fig 2. Em sua participação na Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2025, Trump reforçou críticas contra a organização. Crédito: Mark Gasten/ONU/Fotos Públicas

 

O pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) Marcos Cueto explica, em notícia disponibilizada em abril deste ano no site da COC/Fiocruz, que os Estados Unidos não participarão das discussões sobre quais cepas de gripe e Covid-19 devem ser usadas para as vacinas anuais. Poderão também ter acesso tardio a dados sobre vírus que circulam no planeta e já não serão obrigados a informar sobre surtos de uma possível epidemia. Além disso tudo, sem os recursos deste país na OMS, os impactos podem ser variados. Pode ocorrer, por exemplo, atraso em programas de vacinação infantil e tratamentos. Estima-se que o orçamento anual cairá de US$7,4 bilhões para US$6,2 bilhões.

Uma pequena amostra do que pode ser a não colaboração dos Estados Unidos na saúde global já foi dada em maio deste ano. O governo Trump cancelou um contrato no qual destinaria quase 600 milhões de dólares para a farmacêutica Moderna. A verba seria destinada ao desenvolvimento de uma vacina para humanos contra a gripe aviária. Até agora, o vírus não passa de animais para humanos, mas isto pode acontecer no futuro. Buscando se antecipar e se preparar caso isso ocorra, o governo americano anterior, de Joe Biden, havia iniciado o contrato com a farmacêutica. Agora sabemos que esta vacina não sairá dos Estados Unidos.

 

Acordo sobre pandemias

Também no discurso de posse, Donald Trump anunciou que seu país não iria aderir ao Acordo das Pandemias, um pacto que busca promover boas práticas em caso de outras pandemias. Nas votações que levaram à aprovação do acordo, na Assembleia Mundial da Saúde realizada em maio de 2025, na Suíça, 124 países votaram a favor e nenhum contra. Porém, em julho, o governo americano informou que estava rejeitando o acordo adotado em maio.

O que diz esse acordo? A ideia é que ele possa garantir que medicamentos, terapias e vacinas sejam acessíveis às populações de todos os países quando uma próxima pandemia ocorrer, independente de qual país tem mais ou menos recursos. Os fabricantes de medicamentos e vacinas envolvidos no acordo deverão destinar 20% de vacinas, medicamentos e testes para a OMS durante uma pandemia para garantir este efeito.

 

Fig 3. EUA pode ficar fora do compartilhamento de patentes de vacinas em futuras pandemias. Crédito: Amira Hissa/PBH/Fotos Públicas

Donald Trump x Big Pharma?

Outra ação do governo americano mostra o quanto as decisões naquele país podem impactar demais nações. Existe um grupo de empresas, grandes produtoras de medicamentos, que desenvolve e comercializa medicamentos tanto nos Estados Unidos quanto em outros países. Este grupo é popularmente chamado de Big Pharma.

Em maio deste ano, Donald Trump assinou uma ordem executiva para forçar essas empresas a igualarem seus preços nos Estados Unidos aos menores valores praticados em outros países. Porém, como as empresas querem lucrar, para igualar os valores nos países onde atuam, poderão tornar os medicamentos mais caros de um modo geral. Podem ainda abandonar nações onde há pouca compra dos medicamentos e passar a fazer menos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, atrasando o lançamento de novos tratamentos.

 

Fig 4. Medida para abaixar preços de medicamentos pode gerar consequências globais. Crédito: Peter Ilicciev/Fiocruz Imagens

A saúde nos EUA durante o governo de Donald Trump

Embora o presidente dos Estados Unidos afirme que trabalha pelo povo do seu país e sua soberania, observamos que ao longo deste ano a saúde desta população foi colocada em risco também.

Em julho, Donald Trump assinou uma lei, em chamada de One Big Beautiful Bill Act, que propõe diminuir impostos da população e das empresas. Porém, assim como no Brasil, estes impostos são investidos em serviços, e um dos efeitos seria sobre o Medicaid, programa de saúde utilizado por milhões de americanos com deficiência e baixa renda. Na lei, ele estabelece novas regras para adesão ao programa de saúde, de modo que pessoas antes elegíveis a acessar o Medicaid já não poderão. Analisando o projeto, o Escritório de Orçamento do Congresso, uma agência ligada ao Congresso dos Estados Unidos, estimou que quase 11 milhões de pessoas poderão perder a cobertura de saúde nos próximos anos se as mudanças forem implantadas.

 

Retrocessos e saúde mental

Fig 5. Desde o início do governo Trump, imigrantes têm sofrido perseguições e deportação do país. Crédito: @PressSec/Fotos Públicas

 

Tudo que foi falado aqui são impactos na saúde de uma forma mais direta: acesso a estabelecimentos de saúde, vacina, tratamento e medicamentos. Porém, olhando para a saúde de uma forma mais ampla e para o contexto geral dos Estados Unidos, percebemos um grande risco também à saúde mental da população que lá reside.

Entre os vários gatilhos para o adoecimento mental, está, por exemplo, a perseguição a estrangeiros que vivem no país e posterior deportação. Há também repressão a universidades que protestaram em prol da Palestina nos últimos meses e exigência do fim de programas de diversidade nas instituições de ensino superior, entre outros aspectos.

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Fontes consultadas:

NEXO. Trump toma posse e anuncia emergência na fronteira dos EUA. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/extra/2025/01/20/trump-discurso-posse. Publicação em: 20 jan 2025. Atualização em: 21 jan 2025. Acesso em: 28 out 2025.

Montanini, Marcelo. Os efeitos da saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde. NEXO. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2025/01/21/impacto-eua-trump-oms-saude. Publicação em: 21 jan 2025. Atualização em: 24 jan 2025. Acesso em: 28 out 2025.

Mannheimer, Vivian. Saída norte-americana da OMS coloca em risco visão de saúde como direito, avalia historiador. Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Disponível em: https://coc.fiocruz.br/todas-as-noticias/saida-norte-americana-da-oms-coloca-em-risco-visao-de-saude-como-direito-avalia-historiador/. Publicado em: 09 abr 2025. Acesso em: 28 out 2025.

Reuters. EUA rejeitam acordo da OMS sobre preparação para futuras pandemias. CNN Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/eua-rejeitam-acordo-da-oms-sobre-preparacao-para-futuras-pandemias/. Publicação em: 18 jul 2025. Acesso em: 28 out 2025.

Leite, Gabriela e Brazuna, Luiza. Trump quer medicamentos mais baratos – mas pode encarecê-los no mundo. Outra Saúde. Disponível em: https://outraspalavras.net/outrasaude/trump-quer-medicamentos-mais-baratos-mas-pode-encarece-los-no-mundo/. Publicação em: 20 mai 2025. Acesso em: 28 out 2025.

Wikipedia. Lei de Uma Grande e Bela Conta. Disponível em: https://en-wikipedia-org.translate.goog/wiki/One_Big_Beautiful_Bill_Act?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc. Acesso em: 28 out 2025.

Raymond, Nate. Reuters. Trump quer tornar Harvard inelegível para financiamento federal. CNN Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/trump-quer-tornar-harvard-inelegivel-para-financiamento-federal/. Publicação em: 29 set 2025. Atualização em: 30 set 2025. Acesso em: 28 out 2025.

Collinson, Stephen. Análise: Entenda por que o governo Trump está mirando universidades dos EUA. CNN. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/analise-as-motivacoes-do-governo-trump-para-atacar-universidades-dos-eua/. Publicação em: 16 abr 2025. Atualização em: 22 mai 2025. Acesso em: 28 out 2025.

 

Por Carolina Vaz (equipe Observatório História & Saúde)

Data Publicação: 07/11/2025