Por: Juliana Rocha

Quem não quer estar bonito? Olhar no espelho e ver que todo o esforço na academia e na dieta valeu a pena? Esse desejo é tão natural que muitas vezes não paramos para pensar que aquilo que é considerado bonito hoje em dia, não o era algumas décadas atrás. Mais difícil ainda é percebermos os perigos que a preocupação exagerada com a silhueta pode trazer à saúde.

Estudos realizados pela Associação Americana de Psiquiatria mostram que cinco em cada 100 americanos desenvolvem algum transtorno alimentar durante a vida. Esses transtornos se caracterizam pela insatisfação em relação ao próprio corpo e por graves alterações na ingestão de alimentos.

São três os tipos de transtorno alimentar: anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica.

Anorexia

Ilustração: Barbara Mello

Ilustração: Barbara Mello

Ao se olhar no espelho, a pessoa que sofre com a anorexia nervosa, embora esteja magérrima, se acredita gorda e encontra pneuzinhos aqui e ali. Essa distorção da autoimagem costuma aparecer mais frequentemente nas adolescentes e mulheres jovens: preocupadas em conquistar um corpo igual ao das modelos das revistas, fecham a boca, perdendo peso e saúde.

Entre os sintomas da anorexia nervosa estão depressão, prática excessiva de exercícios físicos, preocupação constante com dietas, recusa em se alimentar, amenorreia (falta de menstruação), pele ressecada e coberta por lanugo (pelos semelhantes à barba do milho) e rápida perda de peso.

O medo de engordar é tão grande que, em alguns casos, além de recusar o alimento, o anoréxico se purga, ou seja, toma laxantes e até provoca o próprio vômito. Pessoas que sofrem com a anorexia chegam a pesar menos que 25% do recomendado para sua idade e altura.

A alimentação é essencial para o bom funcionamento do corpo. Os alimentos são matéria-prima para a produção de novas células, de secreções e substâncias diversas em nosso organismo: alterações em sua qualidade e quantidade influenciam diretamente em todas as funções do corpo. Por isso, quando não tratada, a anorexia tem consequências graves como alterações hormonais, no coração, desidratação, desnutrição e, em alguns casos, pode mesmo levar à morte.

Veja ilustração mostrando as consequências da anorexia no corpo humano

Bulimia

A neura com o corpo perfeito também pode levar à bulimia nervosa. Na bulimia, alternam-se períodos de alimentação regular com momentos de comilança. Durante o surto de compulsão alimentar – conhecido como binge –, uma pessoa pode ingerir até 10 mil calorias, quatro vezes mais do que a média de consumo recomendada para um dia inteiro!

Nem sempre são guloseimas: o controle sobre o apetite é perdido de tal maneira que algumas pessoas comem carnes cruas ou fazem misturas exóticas como leite condensado e feijão gelado. Sentindo-se culpados pelo exagero, bulímicos tomam laxantes ou provocam o vômito.

O enfiar dos dedos pela garganta nas repetidas tentativas para pôr toda a comida para fora leva a lesões nas mãos e no esôfago. Outras consequências prejudiciais da bulimia são o aumento da acidez estomacal e o aparecimento de distúrbios gástricos.

Ao contrário daqueles que sofrem com a anorexia nervosa, os bulímicos costumam estar próximos de seu peso ideal. Também não apresentam sintomas claros de depressão e são considerados pessoas extrovertidas e alegres. Contudo, apesar da aparência saudável, quem apresenta esse comportamento compulsivo em relação à comida está doente e precisa se cuidar.

Veja ilustração mostrando as consequências da bulimia no corpo humano

Compulsão alimentar periódica

O binge aparece também entre os que sofrem com o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP). Mas, ao contrário do bulímico e do anoréxico purgativo, a pessoa com TCAP não toma laxantes ou provoca o próprio vômito. Daí a obesidade ser frequente entre aqueles que tem o transtorno da compulsão alimentar periódica.

Os quilos a mais na balança só aumentam o sofrimento da pessoa com TCAP, podendo levá-la a um ciclo de surtos alimentares difícil de ser quebrado.

Ilustração: Barbara Mello

Ilustração: Barbara Mello

Olga Maria Bastos, médica do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), afirma que a falta de adesão ao tratamento é o principal obstáculo à cura nos casos de transtorno alimentar. “Raramente o anoréxico ou o bulímico procura o médico por conta própria. Não se consideram doentes. Por que apareceriam no hospital? Não veem motivos para isso.”

O tratamento dos transtornos alimentares envolve profissionais de diferentes áreas: é necessário que o doente seja acompanhado por um clínico, um nutricionista e um psicoterapeuta. O envolvimento familiar também é muito importante, especialmente para o diagnóstico precoce do problema, o que aumenta as chances de recuperação e cura.

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Agradecimentos: Olga Maria Bastos, médica do IFF/Fiocruz e Walmir Coutinho, endocrinologista.

Se você procura orientação médica ou tem dúvidas sobre transtornos alimentares, pode entrar em contato com o Núcleo de Estudos em Saúde Adolescente (NESA/UERJ). Em São Paulo, busque o Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (AMBULIM/USP). Se você mora em outras cidades, informe-se nas universidades ou hospitais públicos.

Fontes de informações:
NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTH. Eating Disorders: facts about eating disorders and the search for solutions. Bethesda: National Institutes of Health, US Department of Health and Human Services, 2001. Disponível em: http://www.nimh.nih.gov/publicat/eatingdisorders.cfm. Acesso: março 2006.

Data Publicação: 02/12/2021