Ampola de vidro transparente, com etiqueta onde se lê "BCG" repousa sobre uma mesa de fundo cinza escuro. Ao seu lado, estão uma seringa e um estetoscópio. Crédito: Richard Villalonundefined undefined

Fig 1. Inicialmente, a vacina BCG era aplicada por via oral, mas depois passou a ser administrada por meio de injeção abaixo da pele. Crédito: Richard Villalonundefined undefined

 

Desenvolvida há mais de cem anos, vacina BCG é importante aliada na proteção contra a tuberculose

Desde a década de 1970, as crianças que nascem no Brasil recebem proteção contra a tuberculose de forma rotineira e gratuita. Você pode até não se lembrar, mas é provável que tenha o registro no braço! Afinal, a vacina BCG quase sempre deixa uma cicatriz no local em que foi aplicada. Graças à vacinação, as formas graves da tuberculose têm se tornado cada vez menos frequentes.

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível pelo ar, ou seja, por meio de tosse, espirro ou fala. Ela afeta principalmente os pulmões, mas pode acometer ainda outros órgãos como rins, ossos e as membranas que envolvem o cérebro (meninges). A meningite causada por tuberculose e a tuberculose que se espalha pelo corpo (chamada disseminada ou miliar) são consideradas formas graves da doença.

 

 

Trata-se de uma das enfermidades mais antigas do mundo. Tudo indica que a tuberculose já estava entre nós há mais de dois mil anos. Fósseis humanos pré-históricos datados de 8.000 a.C. encontrados na Alemanha revelaram sinais de sua presença. No entanto, foi apenas no século 19 que o principal microrganismo causador da doença foi descoberto. Em 1882, o cientista Robert Koch descobriu o Mycobacterium tuberculosis. A bactéria também ficou conhecida como bacilo de Koch. Outras espécies de bactérias também causam tuberculose, porém, de forma menos frequente.

A cada ano, o mundo registra cerca de 10 milhões de novos casos de tuberculose. As mortes ultrapassam um milhão. O Brasil está entre os países com mais casos da doença. Em 2021, o país registrou mais de 68 mil novos casos.

 

Ampola de vidro transparente, com etiqueta onde se lê "BCG" repousa sobre uma mesa de fundo cinza escuro. Ao seu lado, estão uma seringa e um estetoscópio. Crédito: Richard Villalonundefined undefined

Fig 3. Estimativas de 2020 da Organização Mundial da Saúde registram novos casos de tuberculose no mundo. Dados do Ministério da Saúde apontam que, no Brasil, foram detectados cerca de 32 novos casos a cada 100 mil habitantes. Fonte: Global Tuberculosis Report 2021 (OMS), adaptado por Invivo. https://www.who.int/teams/global-tuberculosis-programme/tb-reports/global-tuberculosis-report-2021

 

Proteção desde a maternidade

Criada em 1921 pelos cientistas franceses Léon Calmette e Alphonse Guérin, a vacina BCG foi formulada a partir de uma bactéria que causa a tuberculose bovina. O nome BCG é uma sigla para Bacilo de Calmette e Guérin.

A vacina BCG começou a ser usada no Brasil ainda na década de 1920, porém, só passou a ser administrada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) no país a partir de 1977.

O Ministério da Saúde recomenda que a vacina seja administrada ainda na maternidade, após o nascimento, ou nas Unidades Básicas de Saúde, até a criança completar cinco anos de idade. A vacina é de dose única e é aplicada por injeção.

Quando administrada, na maioria das vezes, surge uma reação no local da aplicação. Em geral, forma-se uma cicatriz a partir da terceira semana. A reação é esperada, mas se ela não ocorrer, não há motivo para pânico. A ausência da cicatriz não indica falta de proteção e a criança não deve ser revacinada.

 

Fig 4. A reação à vacina começa com uma mancha vermelha elevada no local da aplicação (a). Na sequência, há evolução para uma pequena úlcera que produz secreção. Com o tempo, ocorre a cicatrização (b). Créditos: (a) Kwangmoozaa/iStock e (b) Remains/iStock. 

 

A vacina protege principalmente contra as formas graves da tuberculose, como a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar. Essa proteção é especialmente importante para bebês e crianças pequenas, pois eles têm maior risco de apresentar complicações decorrentes da infecção, inclusive morte.

Os benefícios da vacina BCG são evidentes, mas seu efeito protetor depende da vacinação em massa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que, pelo menos, 90% da população infantil seja vacinada com esse imunizante.

Durante vários anos, o Brasil esteve acima dessa meta, mas, agora, estamos cada vez mais distantes. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2015 e 2021, houve uma queda superior a 30% no percentual de crianças vacinadas com BCG. Em 2021, menos de 70% das crianças brasileiras receberam o imunizante.

 

Defesa se estende a vários inimigos

Além de atuar na prevenção da tuberculose, a vacina BCG tem outras vantagens. Ela estimula as defesas do corpo, de maneira geral, o que acaba gerando um “efeito protetor” contra outras doenças. Por isso, cientistas têm estudado sua capacidade protetora em novos cenários, por exemplo, contra a Covid-19.

A ação deste imunizante na hanseníase já é conhecida. A hanseníase é uma doença crônica causada por uma bactéria do mesmo gênero daquelas que causam a tuberculose. Além das crianças, a vacina BCG é indicada para pessoas de qualquer idade que convivem com portadores de hanseníase. Isto porque ela também reduz as chances de manifestar formas graves da hanseníase.

Mais uma curiosidade é o uso da BCG no tratamento do câncer. Uma formulação mais concentrada, chamada de onco BCG ou imuno BCG, já é usada no tratamento de pacientes com câncer de bexiga. O produto estimula o corpo a atacar células do câncer, ajudando a evitar recorrência do tumor.

 

Fontes consultadas:

Agência Fiocruz de Notícias. Tuberculose. https://agencia.fiocruz.br/glossario-tuberculose. Publicado em 04 de julho de 2013. Acessado em 21 de junho de 2022.

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Zorzetto R. O tombo na vacinação infantil. Revista Pesquisa Fapesp. https://revistapesquisa.fapesp.br/o-tombo-na-vacinacao-infantil/#:~:text=Estudos%20recentes%20indicam%20que%20a,nos%20primeiros%20meses%20daquele%20ano. Edição 313 mar. 2022. Publicado on-line em 25 de fevereiro de 2022. Acessado em 21 de junho de 2022.

Teixeira M. Resposta imune especial induzida por vacina viva é estudada para uso na pandemia. Instituto Butantan. https://coronavirus.butantan.gov.br/ultimas-noticias/resposta-imune-especial-induzida-por-vacina-viva-e-estudada-para-uso-na-pandemia. Publicado em 03 de meio de 2020. Acessado em 21 de junho de 2022.

SBIM. Vacina BCG. https://familia.sbim.org.br/vacinas/vacinas-disponiveis/vacina-bcg. Atualizado em 14 de abril de 2021. Acessado em 21 de junho de 2022.

Canal do YouTube Drauzio Varella. A vacina BCG e a importância da imunização. https://www.youtube.com/watch?v=S3gzbQlN7Rc. Acessado em 21 de junho de 2022.

Canal YouTube TV Brasil. BCG: vacina que protege contra a tuberculose completa 100 anos. https://www.youtube.com/watch?v=hTw6iy4YquA. Acessado em 21 de junho de 2022.

Biblioteca Virtual em Saúde Ministério da Saúde. 01/7 – Dia da Vacina BCG. https://bvsms.saude.gov.br/01-7-dia-da-vacina-bcg/. Acessado em 21 de junho de 2022.

Biblioteca Virtual em Saúde Ministério da Saúde. 01/7 – Dia da Vacina BCG. https://bvsms.saude.gov.br/01-7-dia-da-vacina-bcg-2/. Acessado em 21 de junho de 2022.

Instituto Butantan. Os 100 anos da vacina BCG e as pesquisas do Butantan sobre novas aplicações do imunizante. https://butantan.gov.br/noticias/os-100-anos-da-vacina-bcg-e-as-pesquisas-do-butantan-sobre-novas-aplicacoes-do-imunizante. Publicado em 31 de agosto de 2021. Acessado em 21 de junho de 2022.

Brasil, Governo Federal. Ministério da Saúde. IMUNIZAÇÃO: Vacina BCG completa 44 anos de imunização da população brasileira contra a tuberculose. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/vacina-bcg-completa-44-anos-de-imunizacao-da-populacao-brasileira-contra-a-tuberculose-3#:~:text=A%20primeira%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20foi%20realizada,prote%C3%A7%C3%A3o%20a%20contra%20a%20tuberculose. Publicado e atualizado em 1º de julho de 2021. Acessado em 21 de junho de 2022.

Por Teresa Santos

Data Publicação: 01/07/2022