Fig 1. Estudantes criaram jogo digital para promover a consciência ambiental entre crianças e adolescentes. Crédito: acervo pessoal

Conheça projetos premiados que trabalharam com a extração de óleo essencial de citronela, jogos digitais e impressão 3D

Esse texto faz parte de uma série de reportagens produzidas a partir de trabalhos premiados no 13º Circuito de Ciências das Escolas Públicas do Distrito Federal, uma ação da Secretaria de Educação do DF.

Uma onça-pintada e um robô tucano lutam para salvar o Brasil da poluição e restaurar o equilíbrio ambiental. Já capivaras incentivam a coleta de lixo adequada e o plantio de árvores. E tem também uma arara azul que explica sobre a fauna e flora dos biomas brasileiros. Todos esses personagens fazem parte de jogos digitais criados por alunos do Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional – CEMI Taguatinga para o projeto ‘Desenvolvimento de jogos educativos para aprendizagem escolar e preservação dos biomas brasileiros: uma abordagem interativa e sustentável para conscientização ambiental nas escolas’. A iniciativa inspirada foi premiada no 13° Circuito de Ciências das Escolas Públicas DF.

A pesquisa foi desenvolvida pelos alunos Isaac Silva e Davi Costa, quando estavam no 3° ano do ensino médio. A professora do curso técnico em computação gráfica Luciana Alves Fernandes foi a orientadora da pesquisa.

No CEMI Taguatinga, além das matérias do ensino médio, os alunos recebem formação técnica no campo da computação gráfica. Essa integração, segundo a professora, permitiu unir conhecimentos das áreas de tecnologia e design ao conhecimento sobre os biomas brasileiros. A partir dessa união, o grupo construiu a plataforma EcoGames.

 

Fig 2. Plataforma digital reúne jogos com personagens da fauna do Cerrado. Crédito: acervo pessoal

 

Os jogos foram inicialmente projetados para alunos do ensino infantil e fundamental. De acordo com Luciana, a ideia era que eles pudessem “aprender de forma lúdica, educativa e também divertida sobre a importância dos biomas brasileiros, da reciclagem e da preservação ambiental”.

Atualmente, a plataforma EcoGames conta com dois jogos finalizados: o ‘Nico Adventure’, no qual a onça-pintada e o robô tucano são os protagonistas, e o ‘Forest Friends’, em que as capivaras são as estrelas. Há ainda um terceiro jogo em desenvolvimento, o ‘Brasil Biomes’, com a arara azul.

A escolha dos personagens não foi coincidência. Segundo a professora, os alunos pensaram em animais da fauna do Cerrado, bioma em que moram. Eles participaram de todas as etapas do projeto, desde o planejamento até o desenvolvimento, a criação dos jogos e a produção de materiais de divulgação.

Segundo Luciana, o ponto de partida foi a percepção do desinteresse e desmotivação dos alunos em aprender conteúdos tradicionais:

— Os estudantes vieram com a gamificação como forma de aumentar a motivação desses alunos, aumentar o interesse e torná-los protagonistas para que eles pudessem realmente se sentir parte daquele ambiente para aprender.

Além de promover uma formação ampla, unindo formação geral básica à parte técnica da computação gráfica, o projeto trouxe outros pontos positivos. Segundo a professora, o trabalho articulou conteúdos que os alunos estudaram ao longo dos três anos no técnico, além de estimular competências criativas e socioambientais.

O estudo promoveu ainda uma aprendizagem baseada em projetos e o desenvolvimento de várias habilidades. Trabalho em equipe, pensamento crítico, resolução de problema e consciência ecológica foram alguns dos aprendizados. “Esses alunos se tornaram agentes transformadores da comunidade”, destaca.

Para o aluno Isaac Silva, a tarefa de que mais gostou de fazer foi criar os personagens e desenvolver as artes de cada um deles. “Consegui expressar e entregar sentimentos nessas artes, de maneira que se conectassem com o meu público-alvo, que era o infantil”, destaca.

Quanto aos jogos produzidos, ele aponta a experiência com o ‘Nico Adventure’ como a mais enriquecedora. “Eu consegui entregar um conteúdo mais sólido, onde a história foi precisamente adaptada para andar com o tema. E, querendo ou não, foi a que mais chamou atenção do público. Foi aí que eu consegui ver a minha metodologia aplicada funcionando 100%, a gamificação”, conclui.

 

Panela de pressão também pode virar equipamento científico!

Fig 3. Alunos utilizaram panela de pressão conectada a um tubo de cobre em formato de serpentina (condensador) e recipiente de coleta para criar o destilador, equipamento capaz de extrair os compostos presentes na citronela. Crédito: acervo pessoal

 

Você sabia que existem estratégias naturais que podem ajudar a afastar mosquitos? Os alunos do Centro Educacional (CED) 08 do Gama (DF) apostaram na citronela, uma planta popularmente associada com ação repelente contra insetos. Eles plantaram, criaram um método para extrair óleo essencial da planta e desenvolveram produtos com esse componente. A ideia deu tão certo que foi também premiada em 2024 no 13° Circuito de Ciências das Escolas Públicas do DF.

Um dos primeiros passos foi a revitalização da horta escolar. Após essa etapa, os estudantes do 2º ano do ensino médio, sob orientação dos professores Lucilia Corrêa e Daniel Oliveira, fizeram o plantio da citronela.

Para a estudante Mariana Alves Silva, participar dessa etapa de plantio foi especial:

— Criei um amor pelo plantio e peguei gosto de todo dia ir regar a horta da escola. Para ser sincera, não sei por que eu me interessei, nunca tinha plantado antes, mas, quando eu comecei a plantar e cuidar das citronelas na escola, foi muito gratificante vê-las crescendo, ficando verdinhas. Tudo isso pelo cuidado e dedicação de todos nós.

 

Fig 4. Estudantes do Ensino Médio do DF plantaram citronela, planta com ação repelente, na horta da escola. Crédito: acervo pessoal

 

Mas o projeto não parou por aí! Utilizando um equipamento simples desenvolvido pelos próprios alunos com materiais de baixo custo, eles fizeram a extração de compostos presentes na citronela. Com o óleo essencial da planta, criaram difusores de ambiente e velas aromáticas, que foram utilizados na escola.

A confecção dos produtos repelentes despertou muito interesse. A aluna Júlia Damásio dos Santos, que também participou do projeto, explica que preferiu essa etapa porque ela possibilitou ver a utilidade dos produtos que criaram. “Também conseguimos ver a quantidade de pessoas que nós conseguimos alcançar e levar saúde e bem-estar”, destaca.

O professor Daniel acrescenta que os produtos foram bem aceitos pela comunidade escolar e “apresentaram significativa eficiência em repelir insetos”. Os resultados sugerem que o uso de produtos naturais pode ser uma ferramenta complementar para espantar mosquitos e auxiliar na prevenção da dengue e de outras doenças transmitidas por eles. Esses produtos, porém, não substituem outras ações: é fundamental sempre fazer o controle de criadouros, eliminando água parada em casas e quintais. A vacinação, conforme a estratégia do Programa Nacional de Imunizações (PNI), também é essencial.

O interesse dos alunos nesse tema surgiu após uma ação do Grupo Executivo Intersetorial de Gestão do Plano de Prevenção e Controle da Dengue (Geiplandengue) no CED 08 do Gama. Durante a atividade, foi realizada uma saída de campo. O grupo visitou residências e orientou sobre cuidados com a dengue. Na sequência, alunos e professores participaram de palestras de formação.

Segundo o professor Daniel, após essas atividades, alguns estudantes procuraram a coordenação pedagógica para dar continuidade ao projeto. O resultado foi a elaboração do estudo premiado ‘Extração de óleo essencial de citronela com uso de materiais de baixo custo’.

Para Daniel, o projeto deixa um legado importante, que inclui “formação do pensamento científico, letramento e alfabetização científicas, formação social e desenvolvimento de consciência coletiva”.

Já a professora Lucilia lembra que os alunos tiveram a oportunidade de apresentar a pesquisa em vários momentos, entre eles, no Circuito de Ciências local e distrital. “Na primeira apresentação, eles estavam todos bem tímidos, não sabiam muito bem explicar. Com o passar do tempo, eles foram conseguindo ter mais autonomia e mais facilidade para comunicar os pontos que eles achavam mais importantes”, conta a orientadora. Para ela, outra repercussão importante foi a possibilidade de troca com outros estudantes.

A aluna Anna Karyna Spier conta que eles apresentaram o projeto também na Câmara Legislativa do DF e na Universidade de Brasília (UnB), entre outros locais. “É muito gratificante ver como fomos e somos capazes de integrar um projeto tão bonito e organizado”, ressalta.

 

Impressão 3D como aliada do Cerrado

Fig 5. Estudantes criaram modelo 3D de tecido vegetal de árvores do Cerrado. Crédito: acervo pessoal

 

As árvores do Cerrado têm um ‘escudo’ que as protege da seca e do fogo. Aquela ‘casca grossa’, que as ajuda a resistir aos desafios ambientais e climáticos, tem um nome diferente: súber. Trata-se de um tecido vegetal composto por células mortas e impregnadas de suberina, uma substância que confere proteção e resistência. Conhecer melhor essa anatomia das plantas do Cerrado, a partir de metodologias ativas, foi o objetivo do projeto ‘Super súber: a impressão 3D como ferramenta educacional’, realizado pelo Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte (CEMTN).

A escola já tinha a tradição de promover estudos sobre o Cerrado e foi assim que surgiu a ideia de aprofundar os conhecimentos sobre o súber. Após leituras sobre o tema e coleta de exemplos das próprias árvores na natureza, a proposta era fazer uma impressão 3D do súber.

O modelo deveria mostrar detalhes dessa estrutura vegetal e evidenciar por que ela constitui uma defesa tão importante para as plantas. Segundo os estudantes e professores responsáveis pelo projeto, a impressão 3D era uma estratégia interessante na medida em que tornava “o tema acessível a todos os públicos, por ser algo físico, palpável e didático”.

Embora a escola não tivesse o equipamento e o material necessários para concretizar essa proposta, a equipe não desanimou e recorreu a parceiros. O Instituto Federal de Brasília (IFB) do Recanto das Emas, então, acolheu o projeto. Eles não só forneceram a infraestrutura, como também contribuíram para o ensino-aprendizagem dos processos envolvidos na impressão 3D.

O modelo de súber resultante, apresentado em exposições para outros estudantes, multiplicou o impacto do trabalho. “O projeto contribuiu para a proteção do Cerrado e a conscientização sobre sua importância, porque, mesmo ele tendo o súber, o seu ‘escudo’ protetor contra queimadas, é preciso um tempo para ele se regenerar”, explicam os participantes, lembrando que, em 2024, registrou-se um número alarmante de focos de incêndio e área queimada no Cerrado.

 

Fig 6. Modelo 3D de ‘casca’ de plantas ampliou conhecimento de alunos e de visitantes da feira de ciências do 13° Circuito de Ciências do DF sobre ‘escudo’ protetor contra queimadas. Crédito: acervo pessoal

 

Mais do que um protótipo de súber 3D, o projeto também resultou em uma equipe engajada, autoconfiante, trabalhando colaborativamente e tendo a tecnologia como aliada da educação. O projeto ‘Super súber: a impressão 3D como ferramenta educacional’ foi orientado pelos professores Ediney Barreto e Brenda Santos, e desenvolvido pelos estudantes Davi de Lima, Esdras Caetano, Maria Paula Araujo, Maria Sofia dos Reis e Stephany Borges. Em 2024, os alunos cursavam o 3º ano do ensino médio, em tempo integral.

Todos os três projetos apresentados nessa matéria foram premiados no 13º Circuito de Ciência das Escolas Públicas do Distrito Federal, na categoria J, em que concorrem trabalhos desenvolvidos por equipes de Ensino Médio em Tempo Integral (EMTI) e Educação Profissional e Tecnológica (nas formas concomitante, subsequente e integrada ao Ensino Médio ou à Educação de Jovens e Adultos – EJA).

Por Fernanda Marques, do Núcleo de Educação e Humanidades em Saúde (Jacarandá) da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, e Teresa Santos.

 

Saiba mais:

Confira outros textos da série Circuito de Ciências

Data Publicação: 12/12/2025