Fig 1. Árvores, parques e áreas verdes protegidas ajudam a refrescar e equilibrar o microclima urbano. Crédito: Flickr no Pexels

Descubra como o relevo, o desmatamento e outros fatores transformam o microclima urbano

Se você mora em uma área urbana, talvez já tenha reparado que os dias parecem cada vez mais quentes. Mas será que esse calor é consequência apenas do sol forte? Para responder essa pergunta, é preciso conhecer mais sobre o chamado microclima urbano, ou seja, sobre as condições climáticas específicas dentro das cidades. Vamos descobrir que há muitos fatores que podem influenciar esse microclima das cidades.

Os fatores naturais, como relevo, vegetação e presença de cursos d’água são alguns dos elementos que influenciam o microclima urbano. Além deles, as ações humanas, como urbanização intensa, impermeabilização do solo, poluição e desmatamento representam outros aspectos importantes.

Essa combinação altera as condições locais de temperatura, umidade e circulação de ar. O resultado é que, em uma mesma cidade, podemos observar bairros muito mais frescos do que outros. Em geral, aqueles que preservam áreas verdes e possuem boa ventilação apresentam temperaturas mais amenas, enquanto outros tornam-se mais quentes devido à remoção de vegetação e à ocupação desordenada.

 

O relevo faz diferença no clima?

Sim, faz, e muito! O relevo, ou seja, as diferentes formas de um terreno, como morros, planícies e vales, influencia a circulação do ar, a umidade, a temperatura e até a formação de chuvas. Imagine uma área cercada de morros, por exemplo. O ar quente pode ficar “preso” ali, dificultando a ventilação natural e aumentando a sensação de calor. É o caso de bairros do Rio de Janeiro situados em áreas de vale, como partes do bairro da Tijuca, onde o ar tem mais dificuldade de circular e a sensação térmica pode ser elevada.

Esse efeito pode ser ainda mais intenso em áreas urbanas densas, cheias de prédios e ruas asfaltadas, pois a própria estrutura da cidade interfere na circulação de ar e favorece a formação de “ilhas de calor”, locais onde a temperatura é muito maior do que nas regiões vizinhas.

 

Fig 2. Fortaleza, no Ceará, possui grandes áreas arborizadas, mas as ilhas de calor possuem variações térmicas dependendo do ponto da cidade. Crédito: Nino Souza/ Pexels

 

Por outro lado, regiões mais altas tendem a ser beneficiadas por ventos constantes, que ajudam a refrescar o ambiente. A Chapada Diamantina, na Bahia, por exemplo, possui áreas de relevo elevado e vegetação preservada, o que contribui para temperaturas mais amenas e maior ventilação, mesmo em dias quentes.

 

E o que o desmatamento tem a ver com o microclima urbano?

A vegetação urbana é fundamental para regular a temperatura e a umidade, além de melhorar a qualidade do ar. Um fator que influencia fortemente o microclima urbano é o desmatamento. Quando são eliminadas áreas de vegetação, mesmo pequenos fragmentos de mata ou árvores em praças,  a cidade perde sua capacidade natural de regular a temperatura e a umidade do ar. As árvores funcionam como um verdadeiro “ar-condicionado natural”: oferecem sombra, mantêm o solo úmido, liberam vapor d’água e ainda ajudam a absorver poluentes, melhorando a qualidade do ar.

Sem essa cobertura verde, o solo esquenta mais rápido, a evaporação diminui e a umidade relativa do ar cai, aumentando a sensação de calor e favorecendo a poluição. Além disso, o desmatamento facilita processos de erosão, gerando poeira e comprometendo ainda mais a saúde da população. A ausência de vegetação intensifica também o efeito das ilhas de calor.

 

Impactos na saúde da população

As mudanças no microclima urbano podem impactar diretamente a saúde da população. Altas temperaturas, baixa umidade e maior concentração de poluentes favorecem doenças respiratórias e cardiovasculares, além de aumentar os riscos de desidratação, exaustão pelo calor e a proliferação de insetos transmissores de doenças.

 

Fig 3. Jardim Botânico de Curitiba (PR) possui uma área total de 278 mil metros quadrados, incluindo o bosque com mata atlântica preservada em meio ao clima urbano. Crédito: Juliano Couto/ Pexels

 

Por isso, planejar as cidades levando em conta o relevo e preservando as áreas verdes é uma medida essencial de saúde pública, além de uma ação ambiental. Curitiba (PR) é um exemplo reconhecido internacionalmente de planejamento urbano sustentável. A cidade aproveitou de forma inteligente seu relevo, com áreas de várzea e fundos de vale, para criar parques lineares e bosques que atuam como corredores ecológicos e espaços de lazer. Esses ambientes ajudam a controlar enchentes, melhoram a qualidade do ar, reduzem as ilhas de calor e ainda promovem a saúde e o bem-estar da população.

Plantar e preservar árvores, proteger encostas e áreas de várzea, além de criar parques e praças, são medidas que ajudam a equilibrar o microclima urbano. Incentivar o planejamento urbano sustentável, com respeito às características naturais do território, também pode evitar que as cidades se tornem cada vez mais quentes e insalubres.

Afinal, clima e saúde andam de mãos dadas, e cuidar do ambiente urbano significa também cuidar das pessoas que vivem nele.

 

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Fontes consultadas:

Amorim, MCCT. Climatologia e gestão do espaço urbano. Mercator, Fortaleza (Online), número especial, v. 9, p. 71–90, 2010. Disponível em: http://www.mercator.ufc.br/index.php/mercator/article/view/534/299. Acesso em: 21 jun. 2025.

Amorim, MCCT. O microclima urbano de áreas residenciais no período noturno. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sn/a/HmJvjtk4Yn7xqRShHGPW8Cd/?lang=pt. Acesso em: 20 jun. 2025.

Jornal da USP. Desmatamento vai aquecer clima do planeta mais que o estimado. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/desmatamento-vai-aquecer-clima-do-planeta-mais-que-o-estimado/. Publicação em: 31 jan 2018. Atualização em: 23 mai 2024. Acesso em: 21 jun. 2025.

Monteiro, Carlos Augusto de Figueiredo. Teoria e clima urbano. 1975. Tese (Livre-Docência) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1975. Acesso em: 20 jun. 2025.

Evers H, Caccia L, Arioli MS, Incau B, Tornello VT e Corrêa F. . Soluções baseadas na natureza: exemplos implementados por cidades brasileiras. WRI Brasil. 2022. Disponível em: https://www.wribrasil.org.br/noticias/solucoes-baseadas-na-natureza-exemplos-implementados-por-cidades-brasileiras. Publicação em: 31 out 2022. Acesso em: 20 jun. 2025.

Secretaria Municipal de Educação de Curitiba (PR). Projeto Agricultura Urbana. Disponível em: https://educacao.curitiba.pr.gov.br/conteudo/projeto-agricultura-urbana/11054. Acesso em: 20 jun. 2025

 

Por Michel Silva

Data Publicação: 22/07/2025