Por: Elisa Batalha

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Pode perguntar para os seus avós ou seus pais: se eles gostavam de histórias em quadrinhos, provavelmente conhecem Reco-Reco, Bolão e Azeitona. Os três meninos bagunceiros eram personagens muito famosos criados por Luiz Sá e publicados na primeira revista em quadrinhos do Brasil, O Tico-Tico, que circulou desde 1905 até a década de 70. A revista tornou conhecidos muitos desenhistas brasileiros, e divertiu gerações de leitores.
Na mesma época que Reco-Reco, Bolão e Azeitona faziam muito sucesso, entre os anos 30 e 50, o seu criador Luiz Sá trabalhava também como funcionário do Serviço Nacional de Educação Sanitária – um órgão governamental criado em 1941, durante o governo do presidente Getúlio Vargas – e ilustrou vários livros e folhetos sobre saúde pública e prevenção de acidentes.
Seus traços retratavam os hábitos e cuidados com a saúde com leveza e humor, ajudando a tornar o tema mais atraente para todos os públicos. Hábitos saudáveis, alimentação correta, higiene, prevenção e combate a doenças eram alguns dos temas tratados pelo Serviço Nacional de Educação Sanitária, que se dedicou a criar peças de propaganda em diversos meios. Um desses recursos eram as cartilhas, como estas, que datam de 1949.

Alimentação e cuidados com a pele eram alguns dos temas das cartilhas
Os livrinhos tratavam de assuntos variados de saúde, higiene e alimentação. Falavam de doenças específicas, mas também de cuidados do cotidiano. Uma delas ensinava até mesmo a que horas as pessoas deveriam tomar banho! “Todos os dias, de preferência pela manhã”, era o que se acreditava na época ser o mais certo. Regras de como cuidar das desagradáveis espinhas, e de como escolher os alimentos mais nutritivos são outros exemplos do conteúdo desse curioso meio de divulgação. A cartilha que tratava de câncer falava de um avanço daqueles dias: já era possível curá-lo com as técnicas existentes, desde que fosse descoberto no início.

Luiz Sá
Temas tão importantes de educação para a saúde exigiam ilustrações à altura. Por isso, foi convocado um fera dos quadrinhos e cartuns como Luiz Sá para ajudar a confeccionar as cartilhas. Ele, que foi um dos grandes desenhistas brasileiros, nasceu no Ceará em 1907, e ainda menino começou a rabiscar com carvão pelas calçadas de Fortaleza. Mudou-se para o Rio de Janeiro por volta de 1929, onde fez um pouco de tudo: foi vigia noturno no Hospital da Gamboa, fez charges, ilustrou livros, desenhou para cinema e televisão, etc. Deixou seu traço na história em um período em que ideias importantes sobre educação, saúde, e propaganda estavam sendo desenvolvidas.
Depois dessa época de ouro dos seus desenhos, a vida de Luiz Sá não ficou nada fácil. Durante os anos 60, aconteceu uma verdadeira invasão dos quadrinhos estrangeiros, e por isso muitas revistas brasileiras fecharam. Por isso, o artista retirou-se para viver afastado em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Ele contraiu tuberculose em 1974, e foi internado no Sanatório Azevedo Lima, em Niterói.
Apesar das dificuldades, continuou a trabalhar em prol da saúde, e durante sua internação, realizou cerca de 50 desenhos. Alguns retratavam o bacilo de Koch, causador da tuberculose, e outros inimigos da saúde. O desenhista se recuperou e voltou para casa após o tratamento, mas alguns anos depois, em 1979, acabou falecendo de complicações causadas pelo problema no pulmão.

Inimigos da saúde desenhados com bom humor pelo artista
Luiz Sá atuou em diferentes áreas e seu desenho faz parte do nosso dia-a-dia até hoje: ele é o criador gráfico do bonequinho das críticas de cinema do jornal O Globo, criado em 1938, e que indica a cotação dos filmes. O desenhista também merece ser aplaudido de pé.
Colaboração: Pedro Paulo Soares, diretor do Museu da Vida / COC/ Fiocruz
Veja também: O Serviço Nacional de Educação Sanitária
Data Publicação: 02/12/2021