Fig 1. Alimento malconservado é um perigo para a sua saúde. Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

 

Saiba como ocorre a transmissão e como prevenir a doença

Você já ouviu falar em botulismo? Apesar de ser uma doença rara, o risco que ela representa é tão grande que qualquer suspeita deve ser tratada como uma emergência médica e notificada imediatamente às autoridades de saúde. Segundo levantamento feito a partir de dados do Ministério da Saúde, no Brasil, entre 2007 e 2024, foram registrados 119 casos, número que pode ser ainda maior devido à subnotificação, isto é, possíveis casos que não tenham sido computados.

A doença não é transmitida de pessoa para pessoa. Ela acontece quando a toxina botulínica, considerada uma das substâncias mais letais conhecidas, entra no organismo. Essa toxina é produzida pela bactéria Clostridium botulinum, presente no solo, na poeira, na água e até no intestino de animais.

 

Principais formas de transmissão

A forma mais comum no Brasil é o botulismo alimentar. Ele ocorre quando a pessoa consome alimentos contaminados com a toxina. Conservas caseiras de palmito, picles ou pequi, carnes curadas de forma artesanal e alguns pescados são os principais responsáveis quando o preparo não segue cuidados adequados. A ausência de oxigênio nas embalagens favorece a multiplicação da bactéria Clostridium botulinum, que é anaeróbica, ou seja, cresce na ausência de oxigênio.

Existe também o botulismo intestinal, mais comum em bebês com menos de seis meses. Nesse caso, ocorre o consumo de alimentos contaminados com esporos da bactéria, isto, estruturas de reprodução minúsculas. Como a flora intestinal nessa fase ainda não é suficiente para impedir a germinação dos esporos, eles germinam no intestino e produzem toxinas. Por isso, especialistas alertam para não oferecer mel a crianças com menos de um ano de idade.

Outra forma menos frequente é o botulismo por ferimentos, quando a bactéria contamina cortes profundos. Há ainda o botulismo associado ao uso indevido da toxina botulínica em procedimentos estéticos ou terapêuticos.

 

Fig 2. Uma das principais recomendações das autoridades sanitárias é não consumir alimentos em conserva que estiverem em latas estufadas, vidros embaçados, embalagens danificadas, vencidas ou com alterações no cheiro e no aspecto. Crédito: Mikhail Dmitriev/Getty Images

 

Os sinais de alerta

Os sintomas iniciais podem incluir fadiga intensa, tontura, boca seca e problemas gastrointestinais como náusea e vômito. A doença evolui rapidamente para alterações neurológicas, como visão dupla, pálpebras caídas e dificuldade de falar e engolir. A paralisia começa na cabeça e desce pelo corpo. Nos casos graves, os músculos respiratórios também são atingidos, o que pode levar à morte. Durante todo o quadro clínico, a pessoa permanece consciente e sem febre, com exceção dos casos ligados a ferimentos infectados.

 

Tratamento e prevenção

O atendimento precisa ser feito em hospital, de preferência em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O soro antibotulínico deve ser aplicado o quanto antes para neutralizar a toxina. Em situações graves, pode ser necessário suporte de ventilação mecânica. A recuperação é possível e não costuma deixar sequelas, mas pode ser lenta e levar meses.

De acordo com o Ministério da Saúde, a principal forma de prevenção é adotar cuidados rigorosos no preparo, consumo, distribuição e comercialização dos alimentos, além da higiene das mãos e dos próprios alimentos.

Algumas medidas fundamentais são:

1. Não consumir alimentos em conserva que estejam em latas estufadas, vidros embaçados, embalagens danificadas, vencidas ou com alterações no cheiro e no aspecto.

2. Lavar sempre as mãos, especialmente antes de manipular alimentos.

3. Preparar conservas caseiras com máxima higiene e armazenamento adequado, seguindo as recomendações sanitárias.

4. Verificar se estabelecimentos e vendedores também seguem essas orientações no preparo dos alimentos comercializados.

5. Evitar oferecer mel a crianças menores de um ano de idade, pois esse alimento pode conter esporos da bactéria do botulismo. O risco é maior porque, nessa faixa etária, a microbiota intestinal continua em desenvolvimento, o que pode facilitar quadros graves da doença.

6. Aqueça bem os alimentos antes do consumo: o cozimento por 10 minutos a temperaturas acima de 80°C é capaz de eliminar as toxinas, embora não destrua os esporos da bactéria.

Com práticas simples de higiene, preparo adequado e atenção às orientações de saúde, o risco de contaminação pode ser reduzido de forma significativa. Informação e prevenção continuam sendo as melhores armas contra o botulismo.

 

Referências bibliográficas:

Brasil. Ministério da Saúde. Manual integrado de vigilância epidemiológica do botulismo. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_integrado_vigilancia_epidemiologica_botulismo.pdf. Acesso em: 15 ago. 2025.

Teodozio T, Silva S, Silva J, Barros Y. Análise dos casos notificados de Botulismo no Brasil. Revista Contribuciones a Las Ciencias Sociales. 2025. doi: 10.55905/revconv.18n.5-434. Disponível em: https://ojs.revistacontribuciones.com/ojs/index.php/clcs/article/view/18309.

Canal Saúde Fiocruz. Ligado em Saúde – Botulismo. 31 dez. 2014. Disponível em: https://fiocruz.br/video/ligado-em-saude-botulismo. Acesso em: 15 ago. 2025.

World Health Organization. Botulism. Genebra: WHO, 2023. Disponível em: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/43546/9789241594639_por.pdf. Acesso em: 15 ago. 2025.

 

Por Michel Silva

Data Publicação: 05/09/2025