Fig 1. No Brasil, postos de saúde também são conhecidos como Unidades Básicas de Saúde (UBS). Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil

Postos de saúde atuam na prevenção de doenças, na promoção da saúde e muito mais. Mas você sabe como eles funcionam?

Provavelmente, perto da sua casa tem um posto de saúde ou uma Unidade Básica de Saúde (UBS), como também são conhecidos no Brasil. Mas você sabe como os postos de saúde surgiram e qual é a sua função? Para entendermos a relevância desses equipamentos públicos, é fundamental compreender as razões que levaram à sua criação e as múltiplas funções que desempenham na nossa sociedade.

Hoje em dia, os postos de saúde são considerados a porta de entrada preferencial para o Sistema Único de Saúde (SUS). Na prática, representam a linha de frente do cuidado em saúde, o ponto de contato mais próximo entre a população e o sistema nacional de saúde. Vamos conhecer mais sobre eles?

 

Antes dos postos de saúde, acesso era limitado

A história dos postos de saúde no Brasil não vem de hoje. O surgimento destas estruturas está ligado à história das políticas de saúde no país. Eles se relacionam principalmente com o desejo de ampliar  o acesso aos serviços de saúde e torná-lo mais justo.

Ao longo do tempo, o modelo de assistência médica predominante era centrado no tratamento curativo e no atendimento hospitalar. Embora esse modelo tenha contribuído para o enfrentamento dos problemas de saúde, trouxe também inúmeros desafios.

 

Fig 2. Por tempos, o modelo de assistência médica predominou, com foco principalmente em hospitais e no tratamento de doenças. Na imagem, enfermaria do Hospital Candelária, entre Santo Antônio e Porto Alegre. Crédito: Museu Paulista/Domínio Público/Picryl

 

Um dos principais problemas era o foco no tratamento de doenças já instaladas, que acometiam moradores de regiões mais ricas dos grandes centros urbanos. Assim, grande parte da população, especialmente em áreas rurais e periferias urbanas, não conseguia ter acesso aos serviços que necessitavam.

Outro ponto diz respeito aos recursos financeiros e profissionais de saúde necessários para o funcionamento de um sistema essencialmente hospitalar. Ou seja, a rede hospitalar consumia e – ainda consome – muitos recursos, e com uma menor capacidade de cobrir a população brasileira.

 

Atenção primária começa a ganhar força

Em 1978, aconteceu a Conferência de Alma-Ata, um dos marcos importantes que impulsionou a adoção da Atenção Primária à Saúde (APS) como estratégia fundamental para que a saúde pudesse ser alcançada por todos. Outras conferências internacionais também foram importantes nesse processo, assim como a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A Atenção Primária à Saúde propõe um modelo de cuidado mais abrangente, preventivo e descentralizado. A ideia é focar na promoção da saúde, na prevenção de doenças e no tratamento das condições mais comuns, tudo isso próximo à comunidade. Os postos de saúde fazem parte da APS e são os agentes que possibilitam esse modelo de cuidado.

 

Fig 3. Conferência de Alma-Ata em 1978. Crédito: Wikimedia Commons

 

No Brasil, as primeiras experiências com postos de saúde, como uma política nacional, ocorreram nos anos 1930. De lá pra cá, especialmente com a criação do SUS pela Constituição de 1988, eles se desenvolveram e tornaram-se muito conhecidos pela população brasileira.

Os postos de saúde são muito importantes porque eles permitem concretizar alguns princípios fundamentais do SUS como a universalização do acesso e a chamada integralidade da atenção. A partir deles, é possível construir, por exemplo, uma rede de saúde que chega a áreas remotas do país, levando acesso a cuidados em saúde.

Eles surgem, portanto, da necessidade urgente de levar a saúde para perto de todos, independentemente de sua condição social, econômica ou geográfica. Além disso, os postos de saúde colaboram para diminuir a sobrecarga de hospitais e grandes centros de referência. O foco nas ações de prevenção e promoção da saúde colaboram, ainda, para uma mudança conceitual: cuidar dos doentes, mas sobretudo promover a saúde para que esta se prolongue.

 

As múltiplas funções da Atenção Primária à Saúde

Os postos de saúde não são meros consultórios médicos. Eles são espaços multifuncionais que desempenham um papel crucial na saúde individual e coletiva da comunidade. Suas funções são amplas e interligadas, refletindo a complexidade e a abrangência da Atenção Primária à Saúde.

Em primeiro lugar, os postos de saúde são responsáveis pela promoção da saúde e prevenção de doenças. Isso se traduz em uma série de ações educativas, como palestras sobre alimentação saudável, importância da atividade física, higiene pessoal, saúde bucal e sexualidade. Também realizam de forma rotineira campanhas de vacinação, essenciais para o controle de doenças infecciosas. Fazem ainda o acompanhamento de gestantes (pré-natal), bebês (puericultura), crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Esse cuidado permite a identificação precoce de fatores de risco e a intervenção antes que problemas graves se desenvolvam. Isso evita ou retarda a necessidade de visita a um hospital, lembra?

 

Fig 4. Uma das atribuições dos postos de saúde são as campanhas de vacinação. Crédito: Paulo Pinto/Agencia Brasil

 

Em segundo lugar, essas unidades de saúde oferecem atendimento clínico básico e acompanhamento de condições crônicas. Isso inclui consultas médicas e de enfermagem para queixas comuns, como resfriados, infecções urinárias e dores de cabeça. Também é nesses locais que tratamos doenças crônicas como diabetes, hipertensão, asma e tuberculose. A equipe de saúde é geralmente composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Todos eles acompanham de perto os usuários, orientando sobre o uso correto de medicamentos, dieta e estilo de vida.

Em terceiro lugar, os postos de saúde são fundamentais para a coordenação do cuidado. Eles atuam como um elo entre o paciente e os outros níveis de atenção do SUS. Quando um caso é mais complexo e exige um especialista ou um exame mais sofisticado, é o posto de saúde que realiza o encaminhamento. Ele pode nos direcionar para a atenção secundária, onde teremos acesso a consultas com especialistas, exames de imagem e outros serviços. Mas também pode nos direcionar para a atenção terciária, que são os hospitais de alta complexidade. Além disso, os postos de saúde são responsáveis por receber o paciente de volta após o tratamento especializado, garantindo a continuidade do cuidado e a reintegração à comunidade.

Em quarto lugar, atuam em funções essenciais, como na vigilância em saúde e no controle de doenças. Isso envolve a notificação de doenças de comunicação compulsória, o monitoramento de surtos e epidemias, e a realização de ações para controlar a proliferação de vetores, como o mosquito transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Os agentes comunitários de saúde, em particular, desempenham um papel vital nessa função. São eles que visitam domicílios e identificam potenciais riscos à saúde da comunidade.

Finalmente, os postos de saúde promovem o vínculo e o acompanhamento do usuário ao longo do tempo. Diferente de um hospital, onde somos atendidos de forma pontual quando surge um episódio específico, no posto de saúde a relação com a equipe de saúde tende a ser contínua e de longo prazo. Os profissionais conhecem a história de vida do paciente, sua família, seu contexto social e cultural, o que facilita um cuidado mais humano, integral e eficaz. Essa proximidade contribui para a construção de confiança e para que os pacientes se sintam mais à vontade para buscar ajuda e seguir as orientações.

Os postos de saúde, portanto, são muito mais do que instalações físicas. Eles são espaços de cuidado, acolhimento e transformação social. Sua existência e fortalecimento são indispensáveis para a construção de um sistema de saúde verdadeiramente universal. Também são essenciais para garantir um modelo justo e capaz de responder às necessidades de saúde de toda a população brasileira. Sabe aquele posto de saúde pertinho de sua casa? Ele é parte de uma concepção de democracia e cidadania à qual não podemos jamais renunciar.

 

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Fontes consultadas:

GIOVANELLA, Lígia; MENDONÇA, Maria Helena. “Atenção Primária à Saúde”. In: Ligia Giovanella et al (Org.). Políticas e Sistema de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2012: 493-546.

PAIVA, Carlos Henrique Assunção; PIRES-ALVES, Fernando. Atenção Primária à Saúde: uma história brasileira. São Paulo: Hucitec, 2021.

 

Por Carlos Henrique Paiva (equipe Observatório História & Saúde)

Esse texto faz parte de um especial pelos 35 anos do SUS, realizado pelo Observatório História & Saúde (Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz) em parceria com o Invivo.

Data Publicação: 19/09/2025