Você conhece alguma mulher cientista? Se não conhece, continua por aqui, pois vamos
apresentar algumas brasileiras que foram e são muito importantes no mundo científico. E
veremos que lugar de mulher é, sim, onde ela quiser – inclusive na ciência! Mas nem sempre foi
assim e, ainda hoje, existem obstáculos pelo caminho…

Segundo relatório de 2018 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco), menos de 30% dos pesquisadores e cientistas de todo o mundo eram
mulheres. E o percentual era ainda menor em cargos mais altos. As mulheres também ficavam
(e ficam) atrás quando o assunto é financiamento, já que recebem menos recursos financeiros
para suas pesquisas.

A ampliação do debate sobre gênero e ciência é algo que contribui para incentivar mais e mais
meninas a buscarem carreiras científicas. Bons exemplos não faltam! Confira abaixo a lista de
cientistas que a equipe do Invivo preparou para celebrar o Dia Internacional das Mulheres! Os
nomes foram reunidos a partir de duas publicações da Fundação Oswaldo Cruz: Menina hoje,
cientista amanhã (Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz) e Calendário
2020 – Cientistas negras (de Joselí Maria Silva dos Santos, ex-aluna do Curso de
Especialização em Divulgação e Popularização da Ciência da Casa de Oswaldo Cruz).

Bertha Lutz (1894-1976)
Nascida em São Paulo em 1894, estudou ciências naturais na França, especializando-se no
grupo dos anfíbios. Filha do médico e pesquisador Adolfo Lutz, trabalhou no Museu Nacional e
desenvolveu estudos que, ainda hoje, são referência na área. Também foi pioneira do
movimento feminista brasileiro, defendendo pautas como direitos trabalhistas das mulheres,
igualdade de salário e acesso ao voto. Atuou na política, foi professora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora da Fiocruz.

Bertha Lutz foi a primeira homenageada do Prêmio Menina Hoje, Cientista Amanhã,
lançado em 2020. A premiação é oferecida pela Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio
Ambiente (Obsma) da Fiocruz. Créditos: Imagem restaurada por Adam Cuerden/Wikimedia
Commons

Enedina Alves Marques (1913-1981)
Nasceu em 1913 e formou-se em engenharia civil em 1945 pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR). Enedina Alves Marques foi a primeira mulher a se formar nesta profissão no
Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil. Atuou na Secretaria de Estado de Viação e
Obras Públicas e no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica do Paraná. Fez parte
de projetos importantes, como o Plano Hidrelétrico do Paraná e a construção da Usina
Capivari-Cachoeira, do Colégio Estadual do Paraná e da Casa do Estudante Universitário de
Curitiba (CEU).

Em 1988, uma rua do bairro Cajuru, em Curitiba (PR), recebeu seu nome. A engenheira
também foi imortalizada no Memorial à Mulher (PR), e, em 2006, foi fundado o Instituto de
Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá (PR). Créditos: Xandi/Wikimedia
Commons

Jaqueline Goes (1989)
Jaqueline Goes nasceu em 1989, na Bahia. Ela é formada em biomedicina pela Escola
Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), tem mestrado em biotecnologia pelo Instituto
de Pesquisas Gonçalo Moniz-Fiocruz e doutorado em patologia humana e experimental pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Fez pesquisas sobre HIV, zika vírus e, mais
recentemente, dengue. Goes fez parte da equipe que desvendou o código genético do vírus
causador da Covid-19 a partir de amostras coletadas do primeiro caso registrado no Brasil. A
análise foi realizada em apenas 48 horas, uma das mais rápidas em todo o mundo.
Atualmente, faz pós-doutorado na USP e é professora da EBMSP.

Jaqueline Goes foi vencedora no prêmio Capes de Teses 2020. Também recebeu o
“Prêmio Mulheres na Ciência Amélia Império Hamburger”, da Câmara dos Deputados, em
2022. Créditos: Raisa Mesquita/Câmara dos Deputados/Wikimedia Commons

Maria Deane (1916-1995)
A médica Maria Deane nasceu em 1916, em Belém (PA). Dedicou-se ao estudo dos
protozoários e fez descobertas importantes sobre leishmaniose visceral, malária e doença de
Chagas. Viajou pelo interior do Brasil investigando doenças que continuam a ser
negligenciadas. Esteve envolvida na consolidação de importantes unidades de ensino e
pesquisa, entre elas, o Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e o
Departamento de Parasitologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de
Carabobo (Venezuela). Atuou ainda como pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da
Fiocruz.

O Instituto Leônidas & Maria Deane, na Fiocruz Amazônia, é uma homenagem às
contribuições de Maria e de seu marido, Leônidas Deane. Ela também dá nome a um auditório
no Pavilhão Leônidas Deane, no IOC/Fiocruz. Créditos: Acervo COC/Fiocruz

Nísia Trindade (1958)
Nísia Trindade nasceu no Rio de Janeiro em 1958. É formada em Ciências Sociais pela Uerj,
mestre em Ciências Políticas e doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas
do Rio de Janeiro (Iuperj – atual Iesp). Ingressou na Casa de Oswaldo Cruz (COC-Fiocruz) em
1987 e, entre 1998 e 2005, foi diretora da unidade. É uma das fundadoras do Museu da Vida
Fiocruz. Em 2017, tornou-se a primeira mulher a presidir a Fiocruz, onde, entre outras ações, liderou medidas de enfrentamento à pandemia de Covid-19 no Brasil. Em 2023, tomou posse
como ministra da Saúde, tornando-se a primeira mulher a ocupar este cargo desde sua
criação, em 1953.

Nísia conquistou o Prêmio de Melhor Tese de Doutorado em Sociologia. Em 2022,
recebeu o Prêmio Regional da TWAS para Diplomacia Científica, honraria voltada para
pesquisas que contribuíram para melhorar relações internacionais. Além disso, recebeu
dezenas de Medalhas de Mérito em função de suas contribuições como gestora e intelectual.
Créditos: Nana Moraes

Sônia Guimarães (1957)
Sônia Guimarães é física, professora do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e
desenvolve pesquisas sobre condutores e isolantes elétricos e sensores de calor. Nascida na
cidade de Brotas, interior de São Paulo, em 1957, concluiu a graduação em 1979 na
Universidade Federal de São Carlos. Fez mestrado na Universidade de São Paulo (USP) e
doutorado na Inglaterra. Guimarães se tornou professora do ITA em 1993, quando a instituição
sequer aceitava mulheres como estudantes. É a primeira mulher negra brasileira doutora em
Física e a primeira mulher negra brasileira a lecionar no ITA. Também é ativista na luta contra o
racismo e discriminação de gênero.

Em 2017, foi criado o Coletivo Negro Sonia Guimarães, no Instituto de Física da USP,
para acolher estudantes negros da instituição. Crédito: Olabi/Flickr

Virgínia Schall (1954-2015)
Nascida em 1954, em Minas Gerais, Virgínia Schall se formou em psicologia, dedicando-se,
inicialmente, ao estudo do funcionamento do sistema nervoso (neurofisiologia) em modelos
animais. Deu aulas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e tornou-se
pesquisadora da Fiocruz. Foi pioneira na articulação dos campos da saúde, educação e divulgação científica no Brasil. Atuou ainda nos Ministérios da Saúde e da Educação, na
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e na Organização Mundial da
Saúde (OMS). Também foi escritora infantil e poetisa.

Virgínia (à direita) participou do projeto que deu origem ao Museu da Vida Fiocruz.
Também esteve à frente da criação do Ciência em Cena, projeto que estimula o interesse
científico por meio da arte, com teatro e atividades interativas. Hoje em dia, o espaço onde são
encenadas as peças com temas científicos no campus da Fiocruz Manguinhos (RJ) é chamado
de Tenda da Ciência Virgínia Schall. Crédito: Acervo Museu da Vida Fiocruz

Referências:
Menina hoje, cientista amanhã / Coordenação de Cristina Araripe Ferreira. – Rio de Janeiro:
FIOCRUZ, 2021.51 p. https://olimpiada.fiocruz.br/wp-content/uploads/2021/02/Ebook-Menina-
Hoje-Cientista-Amanha-10-02-1.pdf. Acesso: 06 mar 2023

Santos, JMS e Gomes, HS. Cientistas Negras: calendário de Divulgação Científica 2020.
Ministério da Saúde, Fiocruz. 2ª edição.

https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/calendario2020_cientistasnegras.
pdf. Acesso: 06 mar 2023

UNIFEI Personalidades do Muro. Enedina Alves. https://unifei.edu.br/personalidades-do-
muro/extensao/enedina-alves/. Acesso: 06 mar 2023

Fiocruz. Maria José Von Paumgartten Deane.
http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/Biograf/ilustres/maria.htm. Acesso: 06 mar 2023
Levy, B. Há 25 anos, pesquisadora descrevia o duplo ciclo de multiplicação do agente
etiológico da doença de Chagas. Agência Fiocruz de Notícias.

https://agencia.fiocruz.br/h%C3%A1-25-anos-pesquisadora-descrevia-o-duplo-ciclo-de-
multiplica%C3%A7%C3%A3o-do-agente-etiol%C3%B3gico-da-doen%C3%A7a-de-chagas.
Publicação: 21 jan 2009. Acesso: 06 mar 2023

Instituto René Rachou Fiocruz Minas. Virgínia Schall. https://www.cpqrr.fiocruz.br/pg/virginia-
schall/. Acesso: 06 mar 2023

Wikipédia. Sonia Guimarães. https://pt.wikipedia.org/wiki/Sonia_Guimar%C3%A3es. Edição: 28
nv 2022. Acesso: 06 mar 2023

Marasciulo, M. Conheça Sônia Guimarães, primeira brasileira negra doutora em física. Revista
Galileu. https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2020/08/conheca-sonia-guimaraes-primeira-brasileira-negra-doutora-em-fisica.html. Atualização: 20 ago 2020. Acesso: 06 mar
2023

Wikipédia. Jaqueline Goes de Jesus. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jaqueline_Goes_de_Jesus.
Edição: 10 jul 2022. Acesso: 06 mar 2023
Museu Catavento. Jaqueline Goes. A cientista que "leu" o Novo Coronavírus.
https://museucatavento.org.br/mulheres-na-ciencia/jaqueline-goes/FOLDER.pdf. Acesso: 06
mar 2023

Fiocruz. Nísia Trindade Lima: conheça a trajetória da presidente da Fiocruz.
https://portal.fiocruz.br/nisia-trindade-de-lima. Acesso: 07 mar 2023

Peres, AC e Stevanim, LF. Uma mulher à frente do SUS. RADIS, N. 245. FEV 2023.
https://radis.ensp.fiocruz.br/phocadownload/revista/Radis245_web.pdf. Acesso: 07 mar 2023

Por Teresa Santos

Data Publicação: 08/03/2023