Marie entre suas filhas Éve e Irène

Marie entre suas filhas Éve e Irène

Após a morte do marido, embora esgotada física e psicologicamente, Marie continuou suas pesquisas. Tornou-se a primeira mulher a dar aulas na Sorbonne, em 1908. Em 1911, ousou ao anunciar sua candidatura à Academia Francesa de Ciências. O preconceito de uma campanha machista, nacionalista e antissemita fez Marie perder a disputa por um voto. Nunca mais ela se candidatou à Academia e por dez anos se recusou a publicar em seu jornal. Vale ressaltar que até 1979 a Academia não admitia mulheres entre seus membros.

Ainda em 1911, boatos sobre um caso amoroso de Marie com um físico francês, mais novo e casado, ecoaram na mídia sensacionalista e escandalizaram a sociedade conservadora francesa. Ninguém jamais teve certeza sobre essa relação, mas o suposto romance abalou a Universidade de Paris e o governo francês. Marie Curie e a Ciência foram consideradas imorais e anti-francesas.

No auge do escândalo, Marie foi notificada de que havia recebido novamente o Prêmio Nobel, dessa vez em química, pela descoberta do Rádio. Provavelmente, a coincidência foi uma demonstração de apoio da comunidade científica após o escândalo. Marie foi a primeira pessoa a receber duas vezes o prêmio Nobel e a única a conquistá-los em áreas científicas (Linus Pauling recebeu o prêmio Nobel de Química em 1954 e o da Paz em 1962).

Ao receber o prêmio, Marie salientou a contribuição de seu marido para a descoberta. Quando retornou à Paris, estava muito doente e teve que ser internada. Passou-se um ano até que pudesse retomar suas atividades.

 

As aplicações práticas da radioatividade

Irene e Marie Curie durante a I Guerra

Irene e Marie Curie durante a I Guerra

Mas sua contribuição para a ciência ainda não havia terminado. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, Marie Curie percebeu que os raios-x seriam muito importantes para o tratamento de ferimentos de balas e fraturas. Para conseguir organizar um serviço de radiografia móvel, Marie visitou laboratórios parisienses e pessoas ricas para pedir apoio financeiro e equipamentos. Ela treinou técnicos para operar as máquinas e, ao final da guerra,  havia instalado duzentas estações de raio-x nas zonas de combate da região da França e Bélgica, tendo atendido a mais de um milhão de soldados! Porém, Marie jamais obteve, em vida, o reconhecimento do governo francês pelo seu trabalho durante a guerra.

Além disso, Marie recolhia o gás que emanava do Rádio e o enviava a hospitais do mundo todo para ser usado no tratamento de tumores cancerígenos. Nos anos seguintes à guerra, ela se dedicou à construção de um instituto de pesquisa francês para o estudo da radioatividade. Visitou os Estados Unidos para arrecadar fundos para sua pesquisa e era assediada por muitos físicos e produtores de cosméticos, que faziam uso de material radioativo sem precauções. Também esteve no Brasil, atraída pela fama das águas radioativas de Lindóia.

Em meados de 1920, os perigos do Rádio foram se evidenciando: jovens que trabalhavam pintando os mostradores de relógios com Rádio para brilharem no escuro estavam sofrendo de câncer, pois molhavam os pincéis na língua. Funcionários do laboratório de Curie morreram de anemia e leucemia, e a própria Marie sofria com os efeitos da radiação.

Embora ignorasse que tais problemas se devessem à exposição ao Rádio, Marie continuava atualizada com os desenvolvimentos da física, e ainda estava viva quando sua filha Irène e genro, Frédèric Joliot, descobriram a radioatividade artificial, mas não viveu para vê-los receber o Prêmio Nobel.

Marie Curie era uma mulher forte: andava de bicicleta, nadava no mar, escalava montanhas e se preocupava em respirar ar puro sempre que saia do laboratório. Ainda assim, não resistiu: a radioatividade foi para ela, ao mesmo tempo, sua vida e sua morte. Marie faleceu de leucemia, em 4 de julho de 1934, aos 67 anos.

 

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Por Irene Cavaliere

Data Publicação: 02/12/2021