Em seus mais de 50 anos de vida profissional, Sir Patrick Manson, um dos verdadeiros caçadores de micróbios originais, realizou diversas descobertas importantes. Contudo, sua maior contribuição foi o conceito do papel dos insetos como transmissores de algumas moléstias tropicais – uma teoria que lançou as bases para a descoberta subsequente, por Sir Ronald Ross, do vetor da malária. Considerado o Pai da Medicina Tropical, foi responsável pela criação da hoje internacionalmente famosa Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Segundo filho de uma família de nove crianças, nasceu em Cromlet Hill, Oldmeldrum, perto de Aberdeen, Escócia, em 3 de outubro de 1844 e formou-se em Medicina pela Universidade de Aberdeen em 1865. No ano seguinte, começou a trabalhar como médico da Alfândega Marítima chinesa, primeiro em Formosa e, a partir de 1870, em Amoy, onde permaneceu pelos próximos 12 anos.

Inspiração e sorte

Manson se interessou pela elefantíase, uma doença comum em Amoy, mas sobre a qual pouco se conhecia. Após algumas experiências, desenvolveu um método cirúrgico eficaz para a remoção do escroto deformado pela doença. Logo, sua clínica estava repleta de pacientes em busca de alívio.

A descoberta por Timothy Lewis das microfilárias aguçou seu interesse. Examinando a população nativa de Amoy, descobriu que um número surpreendente de parasitados. Contudo, em alguns indivíduos que sabia infectados, não conseguia detectar os vermes.

Neste ponto, contou com a ajuda da sorte. Manson treinara dois estudantes chineses para coletar e preparar amostras de sangue. Um só podia trabalhar à noite. Para sua surpresa, o cientista escocês percebeu que o material preparado pelo aluno noturno sempre apresentava maior número de parasitos. Depois de afastar outras hipóteses, descobriu a periodicidade das microfilárias. Os vermes começavam a aparecer no sangue ao crepúsculo, aumentavam até a meia-noite e começavam a diminuir até às 9 ou 10h da manhã, quando praticamente desapareciam.

Ao apresentar estes resultados pela primeira vez em uma reunião científica em Londres, Manson tornou-se objeto de riso. Contudo, pouco depois, pesquisadores que repetiram suas experiências chegaram às mesmas conclusões. Foi somente 20 anos depois, novamente por sorte, que Manson descobriu o refúgio diurno das microfilárias. Durante a autópsia de um paciente que cometera suicídio de manhã, encontrou os vermes nos pulmões e nas grandes artérias.

“É a discrepância que ensina, se você é capaz de aprender”, observou Manson. E foi a discrepância no tempo que levou-o a detectar o modo de transmissão. Numa inspiração, concluiu que, ao se alimentarem, insetos hematófagos deviam ingerir microfilárias junto com o sangue. De todos os insetos, apenas um – o mosquito – alterava seus hábitos de acordo com a hora do dia. E seu período favorito era ao crepúsculo e durante a noite, o horário exato em que os parasitos apareciam na corrente sanguínea.

Para testar sua hipótese, Manson teve a ajuda de seu jardineiro Hinlo, infectado pelo parasito, que foi picado por mosquitos durante vários dias. Coletou estes insetos em datas diferentes, dissecando-os. Ao examiná-los, pode observar o desenvolvimento da microfilárias:

“…Finalmente, tive sucesso em seguir a filária através da parede do estômago até a cavidade abdominal, e então, até os músculos torácicos do mosquito. Verifiquei que, durante esta passagem, o pequeno parasito aumentou de tamanho de forma impressionante. Desenvolveu uma boca, um canal alimentar e outros órgãos…Visivelmente, estava a caminho de um novo hospedeiro humano.”

Após observar o verme até que este “estivesse equipado para a vida independente e pronto para abandonar sua ama-seca, o mosquito”, Manson viu que o parasito desenvolvia um dispositivo perfurante. Contudo, como acreditava que os mosquitos morriam ao por os ovos na água, formulou a teoria de que a filaria escapava do inseto morto e permanecia na água até ser engolida por um ser humano. Apesar deste erro, a identificação, por Manson, deste novo agente transmissor de doenças estimulou a busca de outros insetos vetores.

Outras contribuições

Além de seus estudos sobre filariose, Manson fez outras contribuições importantes para a medicina. Entre elas, destacam-se a descrição do fungo Trichophyton mansoni; a identificação dos ovos de Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose; e a descoberta do verme pulmonar, Paragonimus westermani, responsável pela paragonimíase ou distomatose pulmonar. Em 1894, levantou a hipótese de que o parasito da malária passava parte do ciclo de vida no mosquito, teoria comprovada por Sir Ronald Ross três anos depois.

Em 1883, Manson deixou Amoy, mudando para Hong Kong, onde continuou a clinicar. Lá dedicou-se ao ensino médico, fundando a Faculdade de Medicina, que deu origem à Universidade de Hong Kong.

Ao retornar a Londres, continuou a desenvolver pesquisas e atender pacientes, passando a dar consultoria para o Serviço Colonial britânico. Nesta época, fundou a hoje internacionalmente famosa Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Sir Patrick Manson morreu em 9 de abril de 1922.

Data Publicação: 12/01/2022