Por: Bruno Amorim
“Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão,
Menininha quando dorme
Põe a mão no coração.
(Cantiga popular)
Se você conhece esta cantiga popular, sabe que batatas se esparramam pelo chão quando nascem… Ou espalham ramas, segundo outra versão. Mas você sabe de onde as batatas vêm? Apreciadas ao redor do globo, esses tubérculos nutritivos têm origem em um só lugar: a América do Sul – mais precisamente o Peru.
Hoje, as batatas (Solanum tuberosum) são o quarto alimento mais plantado no mundo – depois de arroz, trigo e milho. Muito nutritivo, esse tubérculo é uma das mais ricas fontes de amido, vitaminas, minerais e fibras alimentares. Contém uma quantidade de gordura muito baixa (apenas 0,1 g/100 g) e não tem colesterol.
As milhares de variedades deste vegetal são consumidas cozidas, fritas, assadas e ensopadas. São essenciais para a preparação de diferentes receitas gastronômicas, incluindo pratos típicos de diversas culturas.
Mas, não se esqueça: há tubérculos que chamamos de batatas e pertencem a outras espécies, como a batata-doce (Ipomoea batatas) e a batata-baroa (Arracacia xanthorrhiza), ambas originárias dos Andes.
Apesar de serem cultivadas há mais de 7 mil anos, as batatas só saíram da América do Sul no século XVI, quando foram levadas pelos espanhóis para a Europa. Depois de conquistar o Velho Mundo – onde rapidamente tornou-se parte essencial da alimentação –, a batata se espalhou por todos os continentes.
A importância da variedade
Além das inúmeras formas de se preparar uma batata, existem milhares de variedades (ou cultivares) de Solanum tuberosum. No Brasil, as principais variedades cultivadas são: Ágata, Asterix, Atlantic, Bintje, Markies, Monalisa e Mondial. Algumas – como a Ágata e a Monalisa – são melhores para assar, enquanto outras – como a Asterix e a Atlantic – são ideais para frituras.
A variedade genética dessas plantas é muito útil para o homem. Pois, sem ela, as batatas (assim como outros organismos) ficam vulneráveis a doenças. E quando doenças atacam lavouras importantes para a alimentação, o resultado pode ser fatal.
Entretanto, mesmo com a existência de centenas de variedades selvagens nos Andes, apenas um pequeno número de cultivares foi introduzido na Europa, o que levou a uma baixa variabilidade genética e uma grande suscetibilidade a doenças
A grande fome
Com o passar do tempo, a Europa ficou mais e mais dependente das plantações de batatas. Chegando ao ponto de, no início do século XIX, terem se tornado o principal alimento dos irlandeses, principalmente durante o inverno. Os mais pobres dependiam da batata para sobreviver.
Portanto, quando as lavouras européias foram infestadas pela “requeima da batata” – uma doença causada pelo oomyceto Phytophthora infestans, a Irlanda sofreu enormemente. A fome matou cerca de um milhão de pessoas no país e forçou a emigração de mais de um milhão irlandeses. Esse período amargo da história irlandesa ficou conhecido como “a grande fome”.
Para uma catástrofe como essa não se repetir, os agricultores preferem plantar variedades mais resistentes ao P. infestans. Além disso, através do cruzamento entre espécies – ou hibridização – e engenharia genética, o homem vem desenvolvendo batatas cada vez mais resistentes a doenças.
Consultoria: Fabíola Mayrink – Museu da Vida
Data Publicação: 23/11/2021