Por: Ana Palma

Tasmânia. Foto: anyaka/Flickr

Tasmânia. Foto: anyaka/Flickr

Quando ouvimos falar em ecossistema, pensamos logo nos grandes biomas, como florestas tropicais, desertos, savanas.  Mas não é bem assim. Biomas, na verdade, reúnem diferentes ecossistemas, agrupados de acordo com aspectos de vegetação, relevo e clima. No bioma Pantanal, por exemplo, encontramos regiões com ecossistemas semelhantes aos existentes na Amazônia e outros similares aos  do Cerrado.

Além disso, dentro de cada um desses ecossistemas, há um número espantoso de variações. A mata de várzea do baixo Amazonas é diferente da encontrada no médio Amazonas. A floresta característica da Mata Atlântica muda à medida que nela penetramos, chegamos próximo a um curso d’água ou subimos uma colina!

Em toda a parte, a vida se espalha! Seres vivos nascem e morrem, procriam e se alimentam, colaboram e competem, fazendo parte de ecossistemas de diferentes dimensões. Alguns são imensos como as areias de uma praia, a copa de uma floresta ou as águas de uma lagoa; outros medianos, como a cratera de um vulcão ou um oásis. E ficam cada vez menores: o interior de uma bromélia, o jardim da sua casa, um terrário, uma lata de lixo. Um mesmo tronco de árvore, que receba luz do Sol apenas em uma das faces, pode abrigar microecossistemas diferentes, com populações e características físicas bem distintas

Organismos e o Meio

Mas afinal o que é um ecossistema? Ecossistema é o conjunto formado pelos seres vivos que habitam e interagem em uma determinada área (biocenose ou fatores bióticos) e os diferentes fatores físicos que atuam sobre eles.

Os fatores físicos ou abióticos são os componentes físicos e químicos que impactam os seres vivos de um determinado ambiente. Por exemplo, o clima, a temperatura, a composição do solo, o regime de chuvas. Uma variação maior na temperatura, um período mais intenso de seca, um aumento de salinidade no solo ou na água – tudo isso pode causar um desequilíbrio ecológico e levar à extinção de espécies.

Pieter Bruegel, o Velho*

Pieter Bruegel, o Velho*

Um exemplo da influência dos fatores abióticos ocorreu na Pequena Idade do Gelo, durante a Era Moderna (entre os séculos XIV e XIX). Nesta época houve uma diminuição média da temperatura mundial de cerca de 1 a 1,5º C. Por alterar, de forma drástica, a cobertura vegetal e o clima no Hemisfério Norte, essa pequena variação foi decisiva para o fim das colônias vikings na Groenlândia e contribuiu para a morte de metade da população da Islândia e um terço dos habitantes da Finlândia. As geleiras nos Alpes se expandiram destruindo fazendas e vilarejos. Por outro lado, o rio Tamisa, na Inglaterra, e os rios e canais holandeses passaram a congelar no inverno, transformando-se em rinques de patinação.

Aqui mesmo no Brasil podemos observar estes efeitos. O El Niño, um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no oceano Pacífico, provoca secas severas no Nordeste e aumenta o risco de incêndios florestais na Amazônia. Podemos citar ainda a expansão da dengue e de outras doenças transmitidas por mosquitos, devido ao aquecimento global.

Fatores bióticos

Já os fatores bióticos referem-se ao conjunto de organismos que vivem em um ecossistema, as relações que estabelecem entre si e seu impacto sobre o ambiente. Em um ecossistema, chamamos de população ao conjunto de indivíduos de uma mesma espécie e de comunidade ao conjunto de populações. Cada população ocupa um lugar (habitat) e desempenha um papel ou função (nicho ecológico) no ecossistema.

Foto: J.M.Garg/Wikipedia

Foto: J.M.Garg/Wikipedia

Alguns exemplos do impacto de fatores bióticos causando desequilíbrio ecológico seriam o aumento ou diminuição de uma população determinada, exercendo impacto sobre suas presas e/ou predadores, ou a introdução de uma nova espécie, que entre em competição com outra já existente. Um bom exemplo é o caramujo africano (Achatina fulica).

Introduzido no Brasil na década de 70 com o substituto para o escargot,  acabou sendo solto na natureza e proliferou explosivamente, por não possuir predadores naturais. Hoje vem competindo  com sucesso, por espaço e alimento, com espécies nativas, reduzindo a biodiversidade local. Além disso, destrói plantações e representa um risco para a saúde, como transmissor potencial de duas importantes verminoses humanas – angiostrongilíase abdominal e meningoencefalite eosinofílica – e de parasitoses veterinárias.

* Paisagem de inverno com armadilha para pássaro, 1601

Consultor: Vanessa Guimarães (Museu da Vida)

Data Publicação: 23/11/2021