Fig 1. Alunos apresentaram protótipo de ar-condicionado feito com isopor, peças reaproveitadas de computador e mistura de gelo, sal e álcool no 13° Circuito de Ciências do DF. Crédito: Acervo pessoal

 

Pesquisa foi premiada no Circuito de Ciências do DF em 2024 juntamente com projetos de identificação de larvas de mosquito e de levantamento de aves

Esse texto faz parte de uma série de reportagens produzidas a partir de trabalhos premiados no 13º Circuito de Ciências das Escolas Públicas do Distrito Federal, uma ação da Secretaria de Educação do DF.

O verão de 2024/2025 entrou para a lista dos mais quentes da história do país. Mas o aumento da temperatura não foi algo pontual. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a última década já foi mais quente do que a anterior no Brasil. E o que podemos fazer para amenizar esse calor? Além de intensificar as medidas de preservação ambiental, a proposta de alunos do Distrito Federal foi criar um ar-condicionado de baixo custo. A ideia deu tão certo que foi premiada em 2024 no 13º Circuito de Ciências das Escolas Públicas do DF.

À frente do projeto, estão alunos da Sala de Recursos de Altas Habilidades de Exatas de Brazlândia (SEEDF) do Colégio Cívico Militar do Distrito Federal Centro Educacional 02 de Brazlândia.

O trabalho foi desenvolvido pelos irmãos Lucas Reis Souza, então no 1º ano do ensino médio, e João Pedro Reis Souza, que estava no 7º ano do ensino fundamental, sob orientação do professor Elton Lima Silva.

Em entrevista ao Invivo, o professor Elton conta que, na fase 1 do estudo, o grupo projetou um ar-condicionado de baixo custo usando papelão, papel alumínio e isopor. No entanto, a caixa ficou muito grande e havia perda do ar frio. Além disso, faltava um termômetro para avaliar a mudança de temperatura no ambiente.

Os desafios foram superados na fase 2 do projeto e essa iniciativa foi premiada no Circuito de Ciências na categoria de Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD).

 

Fig 2. Protótipo de ar-condicionado de alunos de Brazlândia utiliza materiais de baixo custo. Crédito: Acervo pessoal

 

Segundo o professor, na fase 2 da pesquisa, os alunos utilizaram uma peça de isopor no formato de caixa (por coincidência a mesma que protege o ar-condicionado convencional). Além disso, usaram coolers reaproveitados de computador (peça que parece um miniventilador) e uma fonte de computador para ventilação. Para finalizar o protótipo, utilizaram materiais que encontramos facialmente em casa: gelo, sal e álcool.

O protótipo se mostrou eficiente na redução de temperatura, como explica o professor Elton:

— Conseguimos uma temperatura de – 17 ºC na mistura (gelo, sal e álcool) com queda em torno do ar-condicionado próxima a 5 ºC. Durante as apresentações, o público que assistiu percebeu também a saída do ar frio e ficou impressionado com seu funcionamento simples.

Um diferencial do trabalho, segundo o professor, foi a motivação, pois os alunos partiram de uma situação-problema concreta: o calor. Na sequência, pesquisaram o contexto socioeconômico e conceitos teóricos científicos. “Além do desenvolvimento intelectual e técnico, houve um desenvolvimento humanístico no sentido da preocupação e cuidado com próximo, visando uma alternativa de baixo custo que poderia ajudar outras pessoas”, destaca Elton.

Para os estudantes Lucas Reis Souza e João Pedro Reis Souza, é fundamental disponibilizar uma alternativa de ar-condicionado que seja mais acessível, sustentável e reutilizável. E eles complementam em entrevista ao Invivo:

— Essa proposta não apenas contribui para a umidificação do ar nos ambientes em que é utilizada, como também promove uma redução significativa no consumo de energia elétrica. Consequentemente, diminui-se a demanda energética das usinas hidrelétricas, evitando a necessidade de construir novas estruturas ou ampliar as já existentes.

 

Fala aí!

Projeto ‘Aperfeiçoando o ar-condicionado de baixo custo – fase II’

A parte que mais nos despertou interesse foi a etapa de confecção e os processos químicos envolvidos. (…) No âmbito da química, consideramos fascinante compreender como a interação entre gelo e sal contribui para a conservação da temperatura, reduzindo o derretimento do gelo. A adição de álcool intensifica ainda mais esse processo (…).

Lucas Reis Souza e João Pedro Reis Souza

 

Coleta de larvas de mosquito foi outra ideia premiada

 

Fig 3. Alunos criaram armadilhas com garrafas PET para investigar presença de larvas de mosquito no terreno da escola. Crédito: Acervo pessoal

 

Se o assunto é calor, então, não podemos deixar de falar sobre arboviroses, doenças causadas por vírus e transmitidas por artrópodes, como mosquitos e carrapatos. Foi pensando em conhecer a diversidade de mosquitos da região que estudantes da turma de Superdotação do Centro de Ensino Fundamental 08 de Sobradinho desenvolveram o projeto ‘Identificação de larvas de mosquito em um ambiente urbano presente no bioma Cerrado’. O trabalho também foi premiado no Circuito de Ciências do DF na categoria de Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD).

Os estudantes instalaram armadilhas feitas de garrafas PET no terreno escolar. Segundo o professor orientador Alexandre David Zeitune, a ideia de trabalhar com larvas tinha o objetivo de garantir maior segurança dos alunos, pois o manejo do mosquito adulto envolve risco de transmissão de doenças.

Em entrevista ao Invivo, Alexandre explica que o grupo adotou uma metodologia já consagrada para identificação das larvas, que é uma chave dicotômica, isto é, ferramenta similar a um fluxograma usada por pesquisadores para identificar organismos. O instrumento foi utilizado via aparelho celular com o aplicativo Globe Observer.

 

Fig 4. Identificação de gênero de mosquitos foi feita a partir de aplicativo de celular. Crédito: Acervo pessoal

 

A análise permitiu identificar três gêneros de mosquitos de importância médica: Aedes, Culex e Anopheles. Não foi possível chegar no nível de espécie. “Seria impossível a gente bater o olho e falar isso aí é Aedes aegypti só de olho”, ressalta o professor Alexandre.

A pesquisa identificou algumas larvas do gênero Culex. No entanto, mais de 90% das larvas coletadas não pertenciam a nenhum dos três gêneros de importância médica, ou seja, provavelmente não estavam associadas à transmissão de doenças.

Para o professor, esse achado mostra que a maioria dos mosquitos não faz mal. E completa:

— O mosquito não é o vilão do processo. O mosquito tem uma importância ecológica e ambiental de polinização e alimento, na cadeia alimentar. Então, a gente não pode marginalizar todos os mosquitos. Mesmo os de interesse sanitário, a responsabilidade do que está acontecendo não é deles, é nossa.

O projeto, segundo Alexandre, possibilitou que os alunos colocassem a mão na massa. “Além de terem sido protagonistas dessa atividade, acho que começaram a olhar o ambiente externo da comunidade deles com outros olhos, com um olhar mais crítico”, considera. Ele lembra que os estudantes passaram a questionar, por exemplo, a presença de lixo em vários locais, incluindo regiões onde havia sinalização proibindo o descarte de resíduos.

O projeto foi desenvolvido pelos alunos Matheus Silva, Danilo Filho, Flávio Brasil, Flávia Brasil e Gabriel Mondiane. Em entrevista ao Invivo, a estudante Flávia Brasil comentou a experiência. Ela participou do projeto quando estava no 8º ano do ensino fundamental.

Para Flávia, todas as etapas do projeto foram inspiradoras, porém, uma ação chamou mais sua atenção:

— Uma parte que eu gostei muito foi analisar as larvas porque a gente olhou no microscópio.

 

Fala aí!

Projeto ‘Identificação de larvas de mosquito em um ambiente urbano presente no bioma Cerrado’

A gente teve uma dinâmica diferente, como sair para procurar e mapear as concentrações de lixo na rua perto da escola.
Flávia Brasil

 

Alunos fizeram levantamento de aves na escola

 

Fig 5. Alunos do DF fizeram levantamento de aves no terreno da escola. Crédito: Acervo pessoal

 

Saindo dos mosquitos, mas continuando pelo ar… Os alunos do Polo de Atendimento de Altas Habilidades de Ceilândia da Escola Classe 64 de Ceilândia (DF) conduziram um levantamento da avifauna urbana no terreno escolar. Eles identificaram espécies e avaliaram sua distribuição e abundância. O resultado foi mais um trabalho também premiado no 13° Circuito de Ciências do DF na categoria de Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD).

O grupo utilizou a metodologia de avistamento e registro descritivo/quantitativo de indivíduos. Para a identificação, foram utilizados livros e sites especializados. Ao todo, foram registradas 57 espécies de aves. O projeto revelou uma grande diversidade de espécies, sendo que quase um terço fazia ninhos na área.

 

Fig 6. Anu-preto foi uma das espécies de aves identificadas no projeto dos alunos de Ceilândia (DF). Crédito: Acervo pessoal

 

Para o professor Rosevaldo Pessoa Queiroz, que orientou o projeto, constatar que havia várias aves que não apenas visitavam, mas ‘moravam’ na região, foi muito interessante. E acrescenta:

— Algumas espécies foram ocasionais e outras, muito recorrentes. Quando, já no final do período de coleta de dados, tivemos acesso a publicações locais com levantamentos de avifauna, ficamos muito surpresos com a biodiversidade encontrada. De 12 parques observados por pessoas experientes em birdwatching (prática de observação de aves) no DF, apenas três superaram o número de espécies avistadas aqui.

Essa riqueza surpreende, segundo Queiroz, porque foi observada em um local que tem um histórico de ocupação humana de décadas. E, especialmente na escola, há barulho e movimentação constantes.

Para o professor, o projeto deixa um legado:

— Esse percurso, certamente, ficará marcado na trajetória acadêmica desses estudantes. Fomos convidados a submeter um artigo científico na Revista Com Censo Jovem, que já está prestes a publicá-lo. Ter uma experiência assim, tão jovens, pode descortinar um futuro promissor na pesquisa básica.

A iniciativa foi desenvolvida pelos estudantes Augusto Borges Aguiar Queiroz e Níckolas Merola Moreira, que cursavam o 8º ano do ensino fundamental na época, e Lucas Mendes dos Santos, que estava no 2º ano do ensino médio. Moreira resume a importância do projeto:

— Observar aves do nosso Cerrado, além de uma atividade saudável, nos torna mais vigilantes a mudanças ao nosso redor, consequentemente, tendo uma clareza sobre o que devemos fazer para contribuir com sua conservação. Não é possível conservar ou defender o que não se conhece.

 

Fala aí!

Projeto ‘Birdwatching no polo de atendimento de altas habilidades/superdotação – AH/SD – da Escola Classe 64 de Ceilândia, Distrito Federal’

A observação de aves pode ser uma ferramenta importante para a conservação do Cerrado, pois desperta o interesse das pessoas pela natureza e incentiva o cuidado com o ambiente.
Augusto Borges Aguiar Queiroz

Meus momentos favoritos durante a observação foram o avistamento de um urutau durante o dia e quando eu consegui diferenciar uma asa-branca de um pombo-doméstico apenas observando seu comportamento, porque isso significou aprendizado e envolvimento com a pesquisa.
Lucas Mendes dos Santos

Minha parte favorita no projeto foi, definitivamente, a redescoberta de aves que nunca demos atenção e que têm especificidades muito interessantes. Encontrei diferentes tipos de aves, das menores às maiores, cada uma com uma plumagem e e uma forma de construir ninho diferente, um canto e uma forma de alimentação particular.
Níckolas Merola Moreira

 

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Fontes consultadas:

Brasil. Instituto Nacional de Meteorologia: Ministério da Agricultura e Pecuária. Verão 2024-2025 foi o sexto mais quente no Brasil desde 1961. Disponível em: https://portal.inmet.gov.br/noticias/ver%C3%A3o-2024-2025-foi-o-sexto-mais-quente-no-brasil-desde-1961. Publicado em: 20 mar 2025. Acesso em: 28 out 2025

 

Por Teresa Santos

Data Publicação: 31/10/2025