Fig 1. Ilustração de mamutes durante a última glaciação, há cerca de 12 mil anos. Animais como esses viveram na Europa, Ásia e América do Norte. Crédito: iStock / Getty Images Plus

 

Conheça um pouco sobre as grandes mudanças climáticas do passado, que já aconteceram anteriormente no planeta

Dias mais quentes, chuvas e secas intensas: as mudanças climáticas estão em muitas notícias. Todo mundo está falando sobre isso! Será que clima do planeta já passou por mudanças antes? Embarque nessa viagem pelas mudanças climáticas do passado e venha descobrir!

 

O que é o clima, afinal?

Está frio hoje? Chovendo? Muito vento? Ou está fazendo calor? Essas frases indicam as condições da atmosfera (a camada de ar que envolve a Terra) em um dia qualquer. No dia a dia, chamamos essas condições de tempo atmosférico. Como está o tempo hoje, aí, onde você mora?

Clima e tempo atmosférico são coisas diferentes. O clima é a média do tempo atmosférico em um período longo, geralmente 30 anos ou mais. Ele tem a ver com as estações do ano e o local da Terra em que você está – o clima dos polos é bem mais frio do que o do Brasil, por exemplo. Podemos falar em clima de um lugar ou no clima da Terra como um todo.

 

Fig 2. O clima na Antártida hoje é extremamente frio. Mas será que sempre foi assim? Crédito: iStock / Getty Images Plus

 

A temperatura média da Terra é de cerca de 15 ºC. Mas nem sempre foi desse jeito. Para entender melhor essa história, o InVivo entrevistou Marcelo Adorna Fernandes, professor de paleontologia da Universidade Federal de São Carlos (SP) e doutor em geologia/paleontologia (ciências que estudam a Terra e a vida que já existiu no nosso planeta).

Segundo Fernandes, desde milhões de anos atrás, o Brasil passou por vários eventos climáticos.

— Há quase 150 milhões de anos, o Brasil ainda estava unido à África e não existia o oceano Atlântico. A região onde hoje está o Brasil era muito seca. Tanto que a gente tem a formação Botucatu, que foi um dos maiores desertos da história da Terra. Na época dos dinossauros, era um deserto, depois passou por climas mais úmidos, depois passou por glaciação.

 

Fig 3. Quando os dinossauros andavam pela Terra, há 150 milhões de anos, os continentes ocupavam posições diferentes das que observamos hoje em dia. Na imagem, vemos (1) a região de Crato (CE), no Nordeste brasileiro; (2) região onde hoje está a Espanha; (3) a atual Sibéria, na Rússia, e (4) a região da China. Crédito: Dr. Ron Blakey/Wikimedia

 

Paleoclimatologia: o estudo do clima do passado

A paleoclimatologia (“paleo” significa passado e “logia”, estudo) estuda como o clima da Terra mudou ao longo de milhões de anos. O Dr. Fernandes explica que o clima já mudou diversas vezes porque a Terra é um planeta dinâmico. “Temos vulcanismos, o movimento dos continentes, que se aproximaram e se afastaram ao longo de milhões de anos. Isso desencadeou terremotos, tsunamis e outras catástrofes que, inclusive, possibilitaram a evolução de novas espécies”, destaca.

Além desses fatores, outros eventos também já afetaram o clima da Terra, como a queda de asteroides. Há 65 milhões de anos, um grande asteroide caiu na região onde hoje está localizado o México. O impacto causou tsunamis, incêndios e lançou uma quantidade imensa de poeira na atmosfera, bloqueando a luz do Sol por vários anos.

Como resultado, houve um resfriamento do planeta. Sem luz, muitas plantas morreram, afetando toda a cadeia alimentar. Cerca de três quartos das espécies de seres vivos foram extintas, incluindo a maioria dos dinossauros. Saiba mais sobre essa história na matéria do Invivo ‘Extinção em massa: as cinco maiores da história’.

 

 

Efeito estufa e as mudanças climáticas do passado (e do presente)

O clima do nosso planeta é regulado pelo efeito estufa. Alguns gases que fazem parte do ar, como o gás carbônico e o vapor de água, são capazes de reter parte de calor do Sol. Em outras palavras, quanto maior a quantidade desses gases no ar, mais quente é o clima. Ao longo da história do nosso planeta, houve vários períodos de grandes erupções vulcânicas, que lançaram quantidades enormes de gás carbônico que aqueceram a atmosfera.

E, se o ar esquenta, a água do mar também. A água quente retém menos gás oxigênio, que a maioria dos seres vivos usa para respirar. Com menos oxigênio na água, houve grandes extinções há 200 milhões de anos (fim do período conhecido como Permiano).

Os vulcões também podem resfriar o planeta. O Dr. Fernandes explica que “os vulcões liberam gases à base de enxofre, que são partículas que sobem na atmosfera e podem bloquear a luz do Sol, causando um efeito de inverno. Isso pode dar origem a eventos glaciais”.

 

Como os cientistas sabem dessas coisas?

Há milhões de anos, não existiam termômetros nem os outros instrumentos que usamos para estudar o clima hoje. Porém, as mudanças climáticas do passado deixaram evidências na natureza.

Os fósseis são algumas delas. Por exemplo, fósseis de animais marinhos foram encontrados em regiões de Minas Gerais e na Chapada do Araripe, na região Nordeste. Isso significa que essas regiões já foram cobertas por mares.

As rochas também guardam a história do clima. Hoje, o sertão nordestino é uma região quente e seca. Mas rochas do local mostram marcas de que, há 300 milhões de anos, icebergs deixaram marcas no fundo de lagos e mares que existiam ali.

Já houve momentos em que o planeta praticamente congelou, depois descongelou. O nível dos oceanos também já variou muito. Hoje, estamos passando por um período interglacial, isto é, entre glaciações. A última glaciação terminou há 11 mil anos, conta o Dr. Fernandes.

Os cientistas também analisam amostras de gelo de áreas da Antártica e da Groenlândia. As amostras contêm bolhas de ar que foram aprisionadas por milhares de anos. Ao estudar essas bolhas, os pesquisadores conseguem saber a quantidade de gases, como o gás carbônico, que estavam presentes naquela época.

 

Por que é importante conhecer as mudanças climáticas do passado?

O estudo do passado nos ajuda a entender melhor como o clima funciona hoje. Sabendo como o clima mudou ao longo do tempo, podemos prever como ele pode mudar novamente.

E o que isso tem a ver com as mudanças climáticas que estão acontecendo agora na Terra? O Dr. Fernandes responde:

— A temperatura média global vem aumentando desde quando houve a primeira medição, no século 17. E vem aumentado devido à ação humana, principalmente depois da era industrial, com o uso de combustíveis fósseis. O planeta está mais quente.

 

Saiba mais em:

Extinção em massa: as cinco maiores da história

Entrevista: “Antropoceno é um chamado para imaginarmos outros padrões de interação com o planeta”

Mudança climática global e o Brasil

O clima está esquentando!

Bagunçando o clima

 

Fontes consultadas:

Jackson, T. Stephen. Climate change throughout history. Britannica. Disponível em: https://explore.britannica.com/explore/savingearth/climate-change-throughout-history

Bicudo, Francisco. As geleiras viraram sertão. Revista Pesquisa Fapesp. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/as-geleiras-viraram-sertao/#:~:text=Desde%20o%20final%20dos%20anos,e%20Rio%20Grande%20do%20Sul. Publicação em: mai 2003.

Open Geology. Paleoclimatology: Earth systems change through time. Disponível em: https://opengeology.org/historicalgeology/paleoclimatology-earth-systems-change-through-time/.

Ghilardi, Aline. A fauna do paleo-deserto Botucatu: o paleo-deserto Botucatu – parte II. Colecionadores de Ossos/Unicamp. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/colecionadores/2011/04/22/a-fauna-do-paleo-deserto-botucatu-o-paleo-deserto-botucatu-parte-ii/. Publicação em: 22 abr 2011.

Cairns, Shani. Paleoclimatology 101. Scientists Warning. Disponível em: https://scientistswarning.org/2020/06/04/paleoclimatology-101/. Publicação em: 4 jun 2020.

 

*Todas as fontes foram consultadas em 18 de junho de 2025.

 

Por Tereza Costa