Ilustração de vírus do sarampo, com formas circulares vermelhas, cravejadas de filetes nas cores marrom e amarelo. Créditos: R&A Studio/iStock

Fig 1. Ilustração do vírus do sarampo. Crédito: R&A Studio/iStock

 

Morbilivírus é uma ameaça para seres humanos e outros animais

Já ouviu falar em um parasita que afeta bois, carneiros, cabras, cães, gatos, golfinhos, botos, focas e… Seres humanos? Pois ele existe! E, na verdade, não se trata de um único vírus, mas de um gênero chamado morbilivírus que, atualmente, engloba sete espécies conhecidas.

E bota “conhecidas” nisso! Afinal, quem não conhece o vírus causador do sarampo?

 

Fotografia em microscopia preto e branco registra vírus do sarampo com forma oval. Crédito: Cynthia S. Goldsmith, William Bellini/Pixnio

Fig 2. Imagem do vírus do sarampo feita em microscópio. Crédito: Cynthia S. Goldsmith, William Bellini/Pixnio

 

De olho no que tem por dentro…

Apesar de causarem doenças em vários seres vivos diferentes, as espécies de morbilivírus possuem semelhanças genéticas. O material genético delas está organizado em uma molécula de RNA. Confira na imagem abaixo a estrutura do vírus causador do sarampo!

 

Ilustração de morbilivírus, com detas que descrevem as diferentes partes do mesmo. Crédito: Olha Pohrebniak/iStock, adaptado por Invivo

Fig 3. Ilustração representando o morbilívirus causador do sarampo. No interior está a molécula de RNA. Crédito: Olha Pohrebniak/iStock, adaptado por Invivo

 

Conhecendo o morbilivírus do ser humano

O sarampo é uma das doenças mais contagiosas do mundo. Ele é transmitido de pessoa para pessoa por tosse, espirro, contato próximo ou direto com secreções nasais e de garganta infectadas. Entre os sintomas, estão febre alta, dor de cabeça, mal-estar, tosse, coriza e manchas avermelhadas na pele.

 

Fotografia colorida mostra detalhe de manchas avermelhadas sobre pele de cor branca. Crédito: Domínio Público

Fig 4. Manchas na pele de um paciente no terceiro dia de infecção por sarampo. Crédito: Domínio Público

 

Atualmente, não há remédios que combatam o vírus e o tratamento busca aliviar os sintomas. A principal medida contra o sarampo é a prevenção por meio da vacinação. E esta estratégia é poderosa!

 

Vacinação salva milhões de pessoas por ano

Antes da criação da vacina em 1963, o mundo registrava epidemias a cada dois ou três anos e cerca de 2,6 milhões de mortes por ano. Mas graças à vacina, o jogo virou! As estimativas mostram que, entre 2000 e 2018, houve uma redução de 73% nas mortes globais por sarampo. Isto significa que mais de 23 milhões de óbitos foram evitados neste período.

No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza de forma gratuita e rotineira nos serviços de saúde do país a vacina tríplice viral aos 12 meses de vida. Ela garante proteção contra sarampo, caxumba e rubéola. Após esta imunização, a recomendação é receber a tetra viral aos 15 meses de idade. Além de proteger contra estas três doenças, a tetra viral protege também contra a catapora.

Apesar do sucesso da vacinação, ainda hoje, o sarampo mata cerca de 100 mil pessoas por ano em todo o mundo. E, em 2019, o cenário piorou. O mundo registrou o maior número de casos da doença desde 1996. Foram quase 870 mil novas infecções. Também houve aumento importante do número de mortes, chegando a mais de 207 mil.

Ou seja, a doença ainda preocupa e, infelizmente, a preocupação tem aumentado nos últimos anos. Confira nos mapas abaixo a evolução dos casos de sarampo no mundo ao longo dos anos.

 

Fig 5. Os mapas mostram o número de novos casos de sarampo por milhão de pessoas em todo o mundo. Os registros foram feitos em 2000, 2016 e 2018. Credito: CDC, adaptado por Invivo

 

Sarampo voltou a ser uma ameaça no Brasil

Nosso país já esteve perto de extinguir o sarampo! Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concedeu ao Brasil o status de país livre da doença. Mas a coisa desandou…As taxas de vacinação da tríplice viral caíram mais de 24 pontos percentuais entre 2015 e 2021. Em 2019, mais de 93% das crianças receberam a tríplice viral, porém, em 2021, o percentual caiu para 71%.

Com a queda do número de pessoas vacinadas, o país voltou a registrar surtos. E, em 2019, lá se foi o nosso certificado de eliminação do sarampo… Dados do Ministério da Saúde mostram que, desde 2018, tivemos mais de 40 mil casos de sarampo no país.

Precisamos reverter a trajetória de queda da vacinação no país! E, para isto, queremos mostrar que conhecer mais sobre vacinas pode ser muito divertido! Que tal descobrir mais sobre estes produtos travando batalhas no universo dos games? Acesse o canal do YouTube do Museu da Vida Fiocruz e navegue pela websérie ‘Invasores’!

 

 

 

Mas e os outros animais?

Fotografia registra boto-cinza saltando sobre o mar azul em dia ensolarado. Créditos: Instituto Boto Cinza/Wikimedia Commons

Fig 7. Um surto de morbilivírus causou a morte de centenas de Botos-cinza nas baías de Ilha Grande e de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Créditos: Instituto Boto Cinza/Wikimedia Commons

 

Já vimos que, no ser humano, o gênero morbilivírus causa muita preocupação. No entanto, este grupo de vírus também é muito infeccioso em outros animais.

Há milhares de anos, o gado de diferentes partes do mundo é acometido por um morbilivírus. A doença causada por este vírus ficou conhecida como peste bovina. Ela matou milhões de animais, provocou perdas econômicas e fome em várias regiões. E, mais uma vez, a vacinação mudou o curso desta história! Em 1957, foi desenvolvida uma vacina contra a peste bovina. E, em 2011, a doença foi considerada erradicada da Terra.

Mas outras espécies de morbilivírus ainda representam uma ameaça. A peste dos pequenos ruminantes tem levado a muitas perdas de ovelhas, carneiros, bodes e cabras. De forma similar, a cinomose, também causada por um morbilivírus, representa um perigo para cães. Já o morbilivírus de cetáceos tem causado surtos letais entre golfinhos, botos e baleias. E alguns deles estão bem aqui no Brasil: entre o final de 2017 e o início de 2018, por exemplo, um surto de morbilivírus causou a morte de mais de 170 botos-cinza nas baías de Ilha Grande e de Sepetiba, no Rio de Janeiro.

 

Fontes consultadas:

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Bio-Manguinhos/Fiocruz. Sarampo foi responsável por 207.500 óbitos em 2019. https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/2067-sarampo-foi-responsavel-por-207-500-obitos-em-2019. Atualizado em 16 de novembro de 2020. Acessado em 8 de agosto de 2022.

Veja. Peste bovina é declarada oficialmente erradicada. https://veja.abril.com.br/ciencia/peste-bovina-e-declarada-oficialmente-erradicada/ Publicado em 25 de maio de 2011. Atualizado em 6 de maio de 2016. Acessado em 5 de agosto de 2022.

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ENSP /Fiocruz. Pesquisador reforça importância da vacinação e defende ações integradas para redução da transmissão do sarampo. https://informe.ensp.fiocruz.br/secoes/noticia/427/53026. Publicado em 12 de maio de 2022. Acessado em 5 de agosto de 2022.

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Zorzetto R. O tombo na vacinação infantil. Revista Pesquisa Fapesp. https://revistapesquisa.fapesp.br/o-tombo-na-vacinacao-infantil/#:~:text=Estudos%20recentes%20indicam%20que%20a,nos%20primeiros%20meses%20daquele%20ano. Edição 313 mar. 2022. Publicado on-line em 25 de fevereiro de 2022. Acessado em 8 de agosto de 2022.

Unicef. 3 em cada 10 crianças no Brasil não receberam vacinas que salvam vidas, alerta UNICEF. https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/3-em-cada-10-criancas-no-brasil-nao-receberam-vacinas-que-salvam-vidas. Publicado em 27 de abril de 2022. Acessado em 8 de agosto de 2022.

MAQUA/UERJ, LAPCOM/FMVZ/USP. Boletim técnico sobre a mortalidade de botos-cinza. https://www.icmbio.gov.br/cma/images/stories/fotos_equipe/Boletim_T%C3%A9cnico_2_LAPCOM_MAQUA.pdf. Publicado em 9 de janeiro de 2018. Acessado em 8 de agosto de 2022.

 

Por Teresa Santos

Data Publicação: 11/08/2022