
Fig 1. Os oceanos cobrem cerca de 70% da superfície da Terra. Crédito: sankai/Getty Images
Veja como o oceano impacta o clima, a alimentação, a água, nosso bem-estar e a saúde de populações do mundo inteiro
Você já pensou que sua respiração começa no mar? Pode parecer estranho, mas é verdade! Mais da metade do oxigênio que respiramos vem do oceano. Além disso, ele regula o clima, garante água, fornece alimentos e movimenta a economia. Mas a ligação entre o oceano e a nossa vida vai além! A saúde de cada pessoa depende diretamente da saúde dos oceanos.
Para entender melhor essa relação, o Invivo conversou com a mestre e doutora em Cirurgia Veterinária Carla Campos, tecnologista em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenadora-adjunta da iniciativa ‘Uma Só Saúde Azul’. Continue a leitura!
Saúde não é só ausência de doença
Quando falamos em saúde, geralmente pensamos em estar livre de doenças. Mas, segundo Campos, o conceito é muito mais amplo:
— A saúde não se resume à ausência de doenças, consistindo no resultado de condições sociais, econômicas e ambientais. Nesse sentido, a saúde e a própria vida de todos nós (seres humanos ou não) dependem do oceano, mesmo que isso não seja evidente no dia a dia, declara.
E não é exagero. O oceano ocupa mais de 70% da superfície do planeta, concentra quase toda a água disponível e é o maior regulador climático da Terra. Ou melhor, essa função cabe ao fitoplâncton. Esses seres microscópicos vivem no fundo dos oceanos e realizam fotossíntese, processo que resulta na liberação de gás oxigênio no ambiente. Assim, além de ser responsável por produzir a maior parte do oxigênio que respiramos, o oceano também armazena carbono e ainda garante condições adequadas para a agricultura e a produção de alimentos.

Fig 2. Imagem feita em microscópio do fitoplâncton, conjunto de microrganismos fotossintetizantes. Crédito: Videologia/Getty Images
Oceano: do prato ao clima
A presença do oceano na nossa vida é muito maior do que imaginamos. É dele que vem uma parte importante da alimentação mundial, como proteínas e nutrientes essenciais. Também é graças ao ciclo da água, sustentado pelos mares, que temos água potável disponível e condições adequadas para cultivar alimentos no campo.
“A qualidade e a saúde do oceano se traduzem em uma grande diversidade de benefícios, que garantem a existência da vida como conhecemos hoje”, destaca Campos.
• Alimentação: cerca de 17% do que a humanidade consome vem do oceano.
• Água: o ciclo da água é sustentado pelo oceano.
• Clima: a estabilidade das chuvas e da temperatura depende da saúde do oceano.
• Bem-estar: lazer, turismo, esporte, espiritualidade e até medicamentos vêm dele.

Fig 3. Pescadores armazenam seus peixes recém pescados do mar. Crédito: Chamith B/Getty Images
O oceano no centro da saúde pública
Atualmente, muitas instituições de ensino, pesquisa e saúde, tal como a Fiocruz, utilizam o conceito de Uma Só Saúde. Este conceito integra saúde do ser humano, saúde animal e saúde ambiental. Mas, segundo a pesquisadora, é preciso dar maior visibilidade ao papel dos mares.
— Uma Só Saúde Azul é um termo que criamos para evidenciar a importância da inclusão do oceano dentro da abordagem de Uma Só Saúde. É um movimento que busca reverter a exclusão histórica do oceano nas políticas públicas. A Fiocruz aplica esse conceito ao desenvolver ações e projetos que consideram a relação de interdependência entre as saúdes humana, animal, ecossistêmica e ambiental, com destaque para o ambiente marinho, pontua.
Quando o oceano adoece, nós sofremos
Um oceano equilibrado contribui para a nossa saúde. Mas quando ele é degradado, os reflexos aparecem rapidamente. A poluição marinha, por exemplo, leva resíduos para a cadeia alimentar. Plásticos, metais pesados e até drogas contaminam peixes e animais invertebrados, como os crustáceos, que acabam no nosso prato.
Dados do relatório ‘Fragmentos da Destruição: impacto do plástico à biodiversidade marinha brasileira’, divulgado em 2024 pela organização da sociedade civil Oceana, revelam números preocupantes. Segundo o estudo, o Brasil despeja cerca de 1,3 milhão de toneladas/ano de resíduos plásticos no oceano.
Além disso, o mesmo levantamento mostra que nove das dez espécies de peixes comerciais mais capturadas para consumo humano no mundo já ingeriram plástico.

Fig 4. Ativista coletando lixo descartado à beira-mar. Crédito: aquaArts studio/Getty Images
Em 2024, um estudo do Instituto Oswaldo Cruz da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) encontrou tubarões contaminados por drogas no litoral do Rio de Janeiro. A descoberta é um alerta sobre como o que jogamos nos rios e esgotos chega ao mar e impacta espécies fundamentais para o equilíbrio da natureza.
As mudanças climáticas também são um reflexo direto da degradação dos mares. Ondas de calor mais intensas, chuvas irregulares e falta de água já afetam a saúde das pessoas, agravando doenças respiratórias e cardiovasculares, além de aumentar o risco de infecções. A destruição de barreiras naturais, como manguezais e recifes de corais, também amplia a erosão costeira e o risco de enchentes que afetam comunidades inteiras.
Oxigênio, clima regulado, alimentos seguros, medicamentos e bem-estar: tudo isso depende de mares saudáveis. Carla Campos resume o recado em uma frase poderosa: “Precisamos nos unir para um futuro melhor e mais saudável para todos nós e para o planeta”.
Fontes consultadas:
UNESCO. United Nations Decade of Ocean Science for Sustainable Development (2021-2030). Disponível em: https://www.unesco.org/en/decades/ocean-decade. Acesso em: 05 set 2025.
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Uma Só Saúde. Disponível em: https://www.paho.org/en/one-health. Acesso em: 08 set 2025.
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Programa Institucional Territórios Sustentáveis e Saudáveis. Disponível em: https://fiocruz.br/programa/programa-institucional-de-territorios-sustentaveis-e-saudaveis. Acesso em 09 set 2025.
Del Favero, J. M.; Andrade, M. M. A perspectiva de futuro e o potencial de transformação social e econômica a partir da ciência oceânica. Revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ciência & Cultura, v. 73, n. 2, p. 23–28, 2021. DOI: 10.21800/2317-66602021000200007.
Gandra, Alana. Fiocruz encontra tubarões contaminados com drogas no Rio de Janeiro. Agência Brasil.. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-07/fiocruz-encontra-tubaroes-contaminados-com-cocaina-no-rio-de-janeiro. Publicado em: 23 jul 2024. Acesso em: 10 set 2025.
Oceana. Fragmentos da Destruição: impacto do plástico à biodiversidade marinha brasileira. 2024. Disponível em: https://brasil.oceana.org/wp-content/uploads/sites/23/2024/10/Fragmentos-da-Destruicao_FINAL-FINAL-FINAL_compressed.pdf. Acesso em: 17 set 2025.
Por Rodrigo Narciso
Data Publicação: 25/09/2025
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