Fig 1. Ilustração 3D representando vírus da dengue. As cores indicam diferentes proteínas do vírus. Crédito: Dr_Microbe/iStock

Fig 1. Ilustração 3D representando vírus da dengue. As cores indicam diferentes proteínas do vírus. Crédito: Dr_Microbe/iStock

 

Estudos e pesquisas para desenvolvimento de uma vacina contra a dengue eficaz estão avançados

Covid-19, poliomielite, sarampo e cerca de outras 30 doenças podem ser prevenidas por vacinas oferecidas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do Programa Nacional de Imunização (PNI). Por causa das vacinas, milhões de vidas foram salvas e algumas doenças se tornaram raras. No entanto, quem olhar a lista dos imunizantes disponíveis no PNI não vai encontrar nenhuma vacina contra a dengue… Pelo menos, por enquanto.

Infelizmente, a dengue é uma antiga conhecida dos brasileiros. A primeira epidemia comprovada no nosso país aconteceu no começo da década de 1980, mas há evidências de que a doença chegou aqui pela primeira vez ainda no século XIX. E a chegada em terras brasileiras do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, aconteceu muito antes.

Como o nome ‘aegypti’ já indica, o mosquito é originário do Egito e provavelmente chegou ao Brasil nos navios que traziam pessoas escravizadas da África. Além do Brasil, o Aedes aegypti vem se espalhando pelas regiões tropicais do mundo desde o século 18.

 

Mapa da dengue no mundo

Hoje, a dengue alcança mais de cem países. Cerca de metade da população mundial vive em áreas afetadas e, a cada ano, 50 milhões de pessoas desenvolvem a doença. Observe o mapa, você consegue localizar o Brasil?

 

Fig 2. Mapa-múndi mostrando os países com casos de dengue em cinza escuro. Quanto maior o tamanho dos círculos em vermelho, maior o número de casos naquele país. Dados de 2020. Crédito: European Centre for Disease Prevention and Control. Para dados mais recentes, consulte: https://www.ecdc.europa.eu/en/dengue-monthly

 

No Brasil, os casos acontecem em todas as regiões do país. Só em 2019, foram mais de 1,5 milhão de novos casos e 754 mortes por aqui. No país, o Aedes aegypti transmite a febre chikungunya e a Zika, além da dengue. Ele também tem capacidade de transmitir o vírus da febre amarela, na chamada forma urbana da doença.

Ilustração de mosquito Aedes aegypti, com balões pretos de diálogo onde lê-se"dengue", "Zika" e "Chikungunya"

Fig 3. No Brasil o Aedes aegypti transmite a febre chikungunya e a Zika, além da dengue. Ele também tem capacidade de transmitir o vírus da febre amarela, na chamada forma urbana da doença.  Crédito: CarlaNichiata / iStock

 

Uma vacina “quatro em um”

A dengue pode ser causada por quatro subtipos do vírus, chamados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Atualmente, todos circulam no Brasil. Na prática, isso significa que uma pessoa pode pegar dengue até quatro vezes na vida, caso seja contaminada pelos quatro subtipos, um de cada vez. Porém, a partir da segunda infecção, aumentam as chances de a doença evoluir para a forma grave, popularmente chamada de dengue hemorrágica.

Não existem nenhum remédio eficaz contra o vírus da dengue em si. E, para ser eficiente, a vacina precisa “treinar” nosso sistema imunitário a reconhecer e combater os quatro subtipos virais. Há vários anos, pesquisadores de diversos países, incluindo do Brasil, se dedicam a criar uma vacina contra a dengue usando diferentes tecnologias.

 

Afinal, existe vacina contra a dengue?

No momento, apenas uma vacina contra a dengue está em uso: é a CYD-TDV, mais conhecida como Dengvaxia, fabricada pela empresa farmacêutica Sanofi Pasteur. Ela foi lançada em 2015 e aprovada em alguns países, incluindo o Brasil. Essa vacina é feita com tecnologia de DNA recombinante: usando a estrutura do vírus atenuado da febre amarela, os pesquisadores “trocam” certos genes, inserindo “partes” dos quatro subtipos de vírus da dengue. Assim, a pessoa que recebe a vacina passa a produzir anticorpos contra os vírus da dengue. É necessário tomar três doses.

Porém, a Dengvaxia está licenciada no Brasil apenas em certos casos e para pessoas entre 9 e 45 anos que já tiveram dengue – ou seja, ela não deve ser tomada por quem nunca teve a doença. Além disso, essa vacina não é igualmente eficiente para os quatro subtipos de vírus da dengue, e os critérios para utilização podem variar dependendo do país. Por exemplo, nos Estados Unidos, somente crianças e adolescentes de 9 a 16 anos, que já tiveram dengue e que vivem em regiões onde há muitos casos da doença, possuem indicação para a Dengvaxia.

A Dengvaxia não faz parte do Programa Nacional de Imunizações, o PNI, isto é, não está no calendário nacional de imunizações. Algumas prefeituras compraram doses dessa vacina e a aplicam em casos específicos. Além disso, ela também pode ser encontrada em serviços privados de vacinação, mas o ideal é que sua indicação seja avaliada por um médico caso a caso.

 

Uma vacina brasileira

Vírus da dengue, na cor verde e em formato de massa circular, dispostos em fundo branco. Crédito: Safoni Pasteur/Institut Pasteur/Flickr.

Fig 4. Vírus da dengue vistos em um microscópio eletrônico. Cada estrutura circular é um vírus. Cores-fantasia. Aumento desconhecido. Crédito: Safoni Pasteur/Institut Pasteur/Flickr.

 

Há várias pesquisas sobre vacina contra a dengue. O Instituto Butantan, em parceria com outras instituições, como o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID, em inglês), conduz uma dessas pesquisas há mais de dez anos. Chamada provisoriamente de Butantan-DV, essa vacina tem se mostrado eficaz contra os quatros tipos de vírus da dengue. Ela é feita de vírus atenuados, ou seja, enfraquecidos e incapazes de provocar a doença.

No momento, a Butantan-DV está na fase 3, a fase final de desenvolvimento. Nesta etapa, cerca de 17 mil voluntários, entre 2 e 59 anos de idade, recebem a vacina. As pessoas que recebem a vacina são acompanhadas para verificar a segurança e a eficácia do imunizante. Os resultados, até agora, são promissores: estudos divulgados em março de 2022 mostraram que a Butantan-DV induziu a produção de anticorpos em 100% das pessoas que já tiveram dengue e em mais de 90% das que nunca tiveram.

A fase 3 da pesquisa deve terminar em 2024, mas ainda não há data para a Butantan-DV estar disponível para a população. Mesmo assim, essa é uma excelente notícia para o país porque a vacina deve reduzir muito a quantidade de casos de dengue, sobretudo os casos graves, que requerem internação e podem levar à morte.

A vacina é sem dúvida um grande avanço, mas não podemos relaxar no combate ao mosquito Aedes aegypti. Dez minutos por semana fazem muita diferença! Saiba como e participe da campanha 10 Minutos contra a Dengue, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

 

Fontes consultadas:

Wilder-Smith A. Dengue vaccine development by the year 2020: challenges and prospects. Curr Opin Virol. 2020 Aug; 43: 71–78. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7568693/ Acessado em 9 de maio de 2022.

Instituto René Rachou/Fiocruz Minas. Dengue. http://www.cpqrr.fiocruz.br/pg/dengue/ Acessado em 9 de maio de 2022.

CDC. About Dengue: What You Need to Know. https://www.cdc.gov/dengue/about/index.html. Acessado em 9 de maio de 2022.

Instituto Butantan. Vacina da dengue tem imunogenicidade superior a 90%, mostra ensaio clínico; Butantan deve finalizar fase 3 até 2024. https://butantan.gov.br/noticias/vacina-da-dengue-tem-imunogenicidade-superior-a-90-mostra-ensaio-clinico–butantan-deve-finalizar-fase-3-ate-2024. Acessado em 9 de maio de 2022.

Por Tereza Costa

Data Publicação: 09/05/2022