Fig 1. Ritual do beijo dos noivos após cerimônia de casamento é comum em muitas sociedades. Crédito: FG Trade/Getty Images

 

Conheça alguns aspectos químicos, físicos e culturais envolvidos no beijo e no ato de beijar

Você já ouviu falar em filematologia? Filematologia, também conhecida como ‘ciência do beijo’, é um ramo da ciência que estuda o beijo, explorando sua origem, evolução, significado, técnicas, e o impacto no corpo e na mente!

O beijo é uma das formas mais universais e, ao mesmo tempo, mais curiosas de expressar afeto, desejo ou carinho. Presente em diversas culturas e ausente em tantas outras, o beijo desperta reações no corpo e nas emoções que têm chamado a atenção da ciência. Afinal, por que beijamos? O que acontece no corpo e na mente durante esse gesto? E será que ele faz bem para a saúde?

 

Beijar é instinto, cultura ou escolha?

Embora muitas pessoas associem o beijo romântico a algo “natural”, ele não é uma prática universal. Um estudo publicado em 2015 na revista ‘American Anthropologist’ revelou que apenas 46% das culturas humanas conhecidas praticam o beijo na boca ou romântico. Em algumas sociedades, o gesto sequer existe. Outras formas de demonstrar afeto podem incluir toques nas mãos, nos ombros ou simples trocas de olhares. Em contrapartida, há culturas em que o beijo é parte do cotidiano entre casais, familiares ou amigos.

Do ponto de vista evolutivo, alguns pesquisadores acreditam que o beijo tenha se desenvolvido como uma forma de estreitar laços sociais e avaliar potenciais parceiros.

Durante o beijo, o ser humano troca sinais químicos por meio do olfato, do tato e do paladar, capazes de transmitir várias informações. A saliva também transporta DNA de uma boca para outra. Em outras palavras, talvez haja mesmo um “instinto” biológico por trás de um beijo apaixonado.

 

Fig 1. Em algumas culturas, o beijo é parte do cotidiano, porém, muitas sociedades têm outras formas de demonstrar afeto. Crédito: FG Trade/Getty Images

 

O corpo em movimento: o que a ciência já sabe?

A ciência já mapeou uma série de reações que ocorrem durante o beijo. A começar pelos lábios, que são extremamente sensíveis por concentrarem milhares de terminações nervosas. Ao se encostarem, os lábios ativam o sistema nervoso periférico e enviam sinais para o cérebro, que responde com a liberação de várias substâncias, sendo algumas associadas ao prazer (dopamina), ao vínculo social (ocitocina) e ao bem-estar e humor (serotonina).

Essas substâncias químicas explicam, em parte, por que o beijo pode provocar sensações tão intensas. Além disso, o contato também acelera os batimentos cardíacos, dilata as pupilas, aumenta a temperatura da pele e modifica o padrão de respiração. Há ainda o envolvimento de cerca de 30 músculos da face e do pescoço, o que faz com que o beijo, embora não substitua uma ida à academia, seja uma atividade física leve, capaz de queimar algumas calorias.

Beijar faz bem para a saúde?

Diversos estudos sugerem que o beijo pode trazer benefícios físicos e emocionais. Além de aliviar o estresse e promover sensação de segurança, o ato de beijar está associado à redução dos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, e ao aumento de endorfinas, que atuam como analgésicos naturais. Em contextos afetivos, o beijo contribui para fortalecer vínculos e aumentar a intimidade emocional entre duas pessoas.

 

Há também pesquisas que indicam efeitos mais diretos à saúde. A troca de saliva, por exemplo, pode ajudar a reforçar o sistema imunológico ao expor o corpo a uma variedade de microrganismos — a maioria, inofensivos. Em um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, casais que se beijam com mais frequência relataram maior satisfação com o relacionamento e níveis mais altos de conexão emocional.

Beijo e cuidado: nem tudo é romance

Apesar dos benefícios, é importante lembrar que o beijo também pode ser uma via de transmissão de doenças infecciosas. Mononucleose, herpes labial, citomegalovírus e até sífilis podem ser transmitidos pelo contato direto da boca e da saliva. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, o beijo se tornou um gesto de alto risco, especialmente em ambientes públicos ou em relações casuais.

A recomendação de evitar beijos fora de contextos íntimos e estáveis reforça a importância de equilibrar afeto e cuidado.

E fora do mundo humano? Tem beijo também?

 

Fig 3. Ternura selvagem entre orangotangos. Mãe beijando sua filha adulta. Crédito: Olga_Gl/Getty Images

 

O beijo não é exclusividade da espécie humana. A prática está presente, por exemplo, entre primatas não humanos como os bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos na evolução. Eles usam gestos semelhantes ao beijo como forma de acalmar tensões, reforçar vínculos ou expressar solidariedade. Alguns animais, como elefantes, também demonstram afeto encostando as trombas, gesto que, segundo especialistas, tem função social parecida com a do beijo humano.

Essas demonstrações sugerem que o beijo pode ser tanto um comportamento aprendido quanto um traço de nossa herança evolutiva. Em ambos os casos, ele envolve mais do que lábios se tocando: há ali comunicação, desejo, memória, vínculo e até química, literalmente.

 

Saiba mais:

A química do amor

A bioquímica da paixão

 

Fontes consultadas:

Consolaro, A. A ciência do beijo: é bom demais!. Jornal da Cidade, Bauru, 2016. , p. 15. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/002750527

Casemiro, P.. Termômetro da relação, 34 músculos envolvidos e milhões de bactérias trocadas: veja o que a ciência diz sobre o beijo na boca. IPqHC/USP. Disponível em: https://ipqhc.org.br/2024/03/02/termometro-da-relacao-34-musculos-envolvidos-e-milhoes-de-bacterias-trocadas-veja-o-que-a-ciencia-diz-sobre-o-beijo-na-boca/. Publicação: 02 mar 2024.

BBC News Brasil. Por que beijamos? [Vídeo]. BBC. Disponível em: https://www.bbc.com/videos/c16j2kkwp5ko. Publicação: 22 ago 2024.

Vasconcellos, M. A. C. . Na próxima primavera vamos poder beijar? Jornal da USP. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/na-proxima-primavera-vamos-poder-beijar/. Publicação: 02 abr 2020.

BBC News Brasil. Pesquisa indica que beijo romântico não é um comportamento universal. BBC. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150715_beijo_romantico_sexual_pesquisa_rb. Publicação: 15 jul 2015.

Jankowiak, W.R, Volsche. S.L e Garcia, J.R (2015). Is the Romantic–Sexual Kiss a Near Human Universal?. AMERICAN ANTHROPOLOGIST, 117: 535-539. https://doi.org/10.1111/aman.12286.

Castro, O. F. . Este é o efeito que um beijo de língua produz no cérebro. El País Brasil Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/07/estilo/1444209730_702668.html. Publicação: 11 out 2015.

Lopes, A. J. O primata perverso polimorfo. Estudos de Psicanálise, Belo Horizonte, n. 40, p. 21-30, dez. 2013. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372013000200003&lng=pt&tlng=pt

Sustentix. Bonobos e chimpanzés oferecem pistas sobre como os nossos ancestrais faziam sexo para fins sociais. Disponível em: https://sustentix.sapo.pt/bonobos-e-chimpanzes-oferecem-pistas-sobre-como-os-nossos-ancestrais-faziam-sexo-para-fins-sociais/. Publicação: 11 mar 2025.

 

*Todos os sites foram acessados em 05 de junho de 2025.

 

Por Michel Silva

Data Publicação: 12/06/2025