Fig 1. Borboletários abrigam diferentes espécies de borboletas em fases variadas do ciclo de vida. Crédito: Divulgação/Acervo pessoal dos professores

 

Além de Borboletário, robótica educacional, jogos e fábulas da fauna e flora do Cerrado foram também destaques em Circuito de Ciências do DF

Esse texto faz parte de uma série de reportagens produzidas a partir de trabalhos premiados no 13º Circuito de Ciências das Escolas Públicas do Distrito Federal, uma ação da Secretaria de Educação do DF.

O que você faria se descobrisse lagartas devorando as folhas de rúcula e couve da horta escolar? Na Escola Classe 403 Norte, no Plano Piloto de Brasília (DF), o problema se tornou uma oportunidade e deu origem a um novo projeto de ciências das crianças do ensino fundamental. O final dessa história foi a criação de um borboletário. E não foi qualquer borboletário! Foi um borboletário premiado no ‘13º Circuito de Ciências das Escolas Públicas do Distrito Federal’, uma iniciativa da Secretaria de Educação do DF.

Os alunos da Escola Classe 403 Norte se juntaram a mais de 80 mil estudantes que participaram da iniciativa. Foram contemplados alunos da educação infantil até o ensino médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). E eles apresentaram 512 trabalhos sobre o tema ‘Biomas do Brasil: diversidade, saberes e tecnologias sociais’. Ao final, 27 projetos foram premiados, incluindo o borboletário da Escola Classe 403 Norte.

O trabalho sobre as borboletas surgiu a partir das dúvidas dos alunos do 1° ano do ensino fundamental. Eles queriam saber quem teria colocado os ovos nas folhas da horta. Para responder essas dúvidas, as professoras Ana Heloisa de Oliveira Nascimento e Eloiza Cristina da Costa, da Escola Classe 403 Norte, propuseram uma experiência. A ideia era que os próprios alunos construíssem um borboletário para observar o ciclo de vida desses insetos e encontrar a resposta.

– Como educadoras, percebemos a necessidade de reconectar nossos estudantes com a natureza. Com atividades direcionadas ao ar livre, descobrimos que é possível despertar o encantamento e o fascínio das crianças, o que certamente ficará marcado para sempre na vida delas”, afirmam em entrevista ao Invivo.

 

Fig 2. Crianças observam lagartas na horta. Crédito: Divulgação/Acervo pessoal dos professores

 

Borboletário: atividade começou em 2023

Junto com a primeira experiência, realizada em 2023, vieram muitas outras curiosidades. As crianças queriam saber, por exemplo, qual é o tamanho máximo que uma lagarta pode alcançar, se borboletas bebem água e quais as principais espécies que vivem no Cerrado.

O sucesso foi tanto que o projeto, intitulado “Borboletário: criando borboletas na escola”, foi ampliado e realizado novamente em 2024, dessa vez com crianças do 1º e 2º anos do ensino fundamental, foi neste ano, que a iniciativa conquistou o primeiro lugar na categoria Educação Fundamental – Anos Iniciais do 13º Circuito de Ciências das Escolas Públicas do Distrito Federal.
Atualmente, a ação integra o projeto político-pedagógico da escola e pode ser realizada por todos os estudantes que desejarem. As professoras pretendem dar continuidade à iniciativa com a revitalização do jardim da escola e o cultivo de flores para atrair mais borboletas. “Ouvir os estudantes, suas dúvidas, curiosidades e hipóteses, direcionar as pesquisas e deixá-los ser ativos nesse processo é o caminho para um projeto de sucesso”, recomendam.

Pesquisa bibliográfica, passeios… E mãos à obra!

A estudante Ana Elisa Simões foi uma das participantes da ação. “O que eu gostei mais foi de pesquisar, porque a gente estudou bastante sobre as borboletas. No final, eu tinha que falar sobre o projeto para dar um toque especial”, orgulha-se a menina.

Apresentado pelas próprias crianças no Circuito de Ciências, o trabalho incluiu consulta a vídeos, sites, artigos e livros, bem como um passeio ao Borboletário do Zoológico de Brasília. Além disso, a atividade envolveu a construção do borboletário em sala de aula. Para isso, os alunos usaram potes grandes transparentes, filme plástico, gravetos, folhas secas e folhas de couve com as lagartas retiradas da horta.

Uma vez pronto, foi feita observação diária, com registros fotográficos e anotações sobre o tamanho das lagartas e sua transformação. Outra preocupação era com alimentação dos insetos, isto é, substituição das folhas de couve diariamente.

 

Fig 3. Alunos do ensino fundamental de Brasília (DF) durante visita ao Borboletário do Zoológico. Crédito: Divulgação/Acervo pessoal dos professores

 

Ciclo de vida das borboletas foi acompanhado passo a passo

Os estudantes viram as lagartas crescerem e construírem pupa (um estágio de desenvolvimento de alguns insetos), e acompanharam o rompimento dos casulos, isto é, do invólucro de seda que recobria a pupa, com as borboletas (fase adulta) estendendo suas asas.

Elas foram, então, soltas na área externa da escola, livres para, novamente, colocarem seus ovos nas folhas da horta e reiniciarem seu ciclo. “O que eu mais gostei no projeto foi de soltar as borboletas, porque é bonito ver as borboletas voarem pela primeira vez”, destaca o estudante Vitor Chamon, comprovando que o projeto alcançou seus objetivos. “As crianças desenvolveram sensibilidade ao olhar para pequenos insetos, deixaram de arrancar as flores do jardim, passaram a se preocupar com a rega das plantas e, hoje, reconhecem espécies de borboletas pouco comuns”, comemoram as professoras.

 

Fala aí!

Projeto “Borboletário: criando borboletas na escola”

 

O que eu mais gostei no projeto foi de soltar as borboletas, porque é bonito ver as borboletas voarem pela primeira vez. Eu aprendi sobre as espécies de borboletas, cada uma tem uma cor diferente, e elas são super lindas.
Vitor Chamon

 

O que aprendi de mais interessante foi sobre as escamas das asas das borboletas do Cerrado. No final, eu tinha que falar sobre o projeto para dar um toque especial.
Ana Elisa Simões

 

Eu gostei de apresentar para as pessoas que queriam aprender mais sobre as lagartas e as borboletas. Aprendi sobre o ciclo de vida da borboleta.
João Marcos Vexenat

 

Minha participação foi importante, porque eu ajudei na escola e, também, levei conhecimento para outras crianças saberem mais sobre as borboletas.
Valentina Oliveira

 

 

Pensamento computacional que empodera

Fig 4. Trabalho de robótica foi outro projeto premiado no Circuito de Ciências do DF. Crédito: Divulgação/Acervo pessoal dos professores

 

Outro trabalho premiado na categorial de ‘Educação Fundamental – Anos Iniciais’ do ’13º Circuito de Ciências das Escolas Públicas do Distrito Federal’ foi o ‘Com os pés no Cerrado: robótica educacional com PictoBlox.

O projeto foi realizado pelos professores Sheley Cristina Corrêa da Silva e Wesley Pereira da Silva com uma turma do 5º ano do Centro Educacional Irmã Maria Regina Velanes Regis. A escola fica localizada em uma área rural de Brazlândia (DF).

Segundo a professora Sheley, os alunos ficaram muito interessados quando eles propuseram construir um jogo.

Jogos e tecnologias aplicados à educação são temas de pesquisa do professor Wesley, que desafiou a turma com aulas de programação e robótica. “Quando eu fiquei sabendo do projeto, eu pensei: como que eu vou fazer? Mas depois eu entendi o meu lugar na programação. Eu gosto de programar o jogo e de explicar essa programação”, afirma Larah Dourado Borges, uma das estudantes que aceitaram e cumpriram o desafio proposto.

O jogo criado pela turma tem duas partes. Na tela do computador, perguntas do tipo “sim” ou “não” são feitas aos personagens, como a cobra coral e o lobo-guará. Para iniciar a partida, escolher seu personagem e selecionar sua resposta, o jogador não usa o teclado ou o mouse: ele pisa nos comandos, dispostos no chão. É daí que vem o nome do jogo: “Com os pés no Cerrado”. Os estudantes foram responsáveis por desenvolver as duas partes, tanto a programação do que aparece na tela quanto os circuitos acionados com os pés.

 

Fig 5. À esquerda, tela do jogo ‘Com os pés no Cerrado’. O computador é ligado por dois fios aos comandos de pé da imagem à direita. Crédito: Divulgação/Acervo pessoal dos professores

 

Para criar a programação, foi utilizada uma ferramenta chamada PictoBlox, que utiliza blocos, tornando o ato de programar mais visual. Já para criar os circuitos, foi utilizada uma placa Makey Makey. “Por exemplo, se eu quero acionar a letra A, em vez de apertar a letra A do teclado, eu piso numa folha de papel alumínio, em que estão conectados dois fios, fechando o circuito elétrico com o meu corpo – não levo choque e aciono a letra A”, completa.

E quanto ao conteúdo do jogo? “Os estudantes moram dentro do Cerrado, e eu procurei utilizar os conhecimentos que eles traziam para a escola”, diz Sheley. Os relatos de experiências das crianças motivavam leituras sobre o assunto.
Quanto ao conteúdo, os alunos criaram após muita pesquisa sobre o Cerrado. “A gente pôde se ajudar. Às vezes, é difícil trabalhar em grupo, mas, quando a gente junta todas as ideias, consegue formar uma resposta melhor”, argumenta a estudante Alice Serejo Leite da Silva.

A experiência já teve desdobramentos. Além de conquistar o segundo lugar na categoria de ‘Educação Fundamental – Anos Iniciais’ do ’13º Circuito de Ciências das Escolas Públicas do Distrito Federal’, a turma programou um robô de Lego, participou de um torneio de robótica do Serviço Social da Indústria (Sesi) e ficou em oitavo lugar, mesmo sendo estreante e competindo com equipes de estudantes mais velhos. E a equipe de robótica formada na escola de Brazlândia segue mobilizada para futuras oportunidades. “A gente pensou que o projeto de ciências seria muito especial, porque a gente só teria aquela chance uma vez. Mas o projeto nos ajudou a estar agora na equipe de robótica. E a gente espera continuar até a nossa idade máxima!”, planeja a jovem Alice.

Para os professores da turma, a experiência trouxe ainda outros aspectos importantes. “Não é só se sentar na frente do computador e programar um robô. A interação social é muito importante. E a gente percebe o empoderamento que eles tiveram”, afirma Wesley.

 

Fala aí!

Projeto “Com os pés no Cerrado: robótica educacional com PictoBlox”

A gente passou mais tempo junto e pôde se ajudar. Conheceu novas pessoas, estudou as espécies do Cerrado e teve que se esforçar.
Alice da Silva

 

Criar o jogo foi mais divertido do que jogá-lo. A gente nunca tinha criado um jogo antes. (…) Esse aprendizado vai ser importante no futuro, se a gente quiser fazer disso profissão e ser cientista.
Wendy Nayanne Borges

 

A minha principal contribuição no projeto foi na parte de mostrar como realmente o jogo funcionava. A gente se esforçou demais e, embora a maioria da turma já se conhecesse, a gente não era tão amigo assim. Eu mesma virei amiga de muita gente da turma por causa do projeto.
Francisca Raylane Nascimento

 

Quando a minha família soube que eu tinha ficado em segundo lugar, ela comprou uma caixa de bombons para mim e falou que eu merecia muito. Nossa equipe mereceu ganhar porque a gente se esforçou, trabalhou muito, e trabalhou em equipe.
Maria Fernanda da Silva

 

Eu quero ser médica. E com o projeto eu aprendi sobre plantas medicinais do Cerrado.
Larah Borges

 

O que eu mais gostei no projeto foi do trabalho em equipe, porque todos os alunos foram incluídos e essenciais. (…) O que eu aprendi de mais interessante foi a programação do jogo, como fazer aquelas perguntas de sim ou não, colocar o áudio e mudar o tema.
Matheus Fernandes

 

 

Aprendizados para estudantes e professores

Fig 6. ‘Interação entre fauna e flora no Cerrado’ foi outro projeto apresentado e premiado no Circuito de Ciências do DF de 2024. Crédito: Divulgação/Acervo pessoal dos professores

 

Quem também aproveitou muito sua participação no Circuito de Ciências foi o estudante Gabriel D. Moura, hoje no 5º ano da Escola Classe 01 do Guará (DF). Após responder a várias questões sobre seu trabalho também premiado no 13° Circuito de Ciências do DF, ele disse que queria fazer uma pergunta: “Posso participar de novo?”, indagou, com os olhos brilhando.

O interesse em repetir a dose tem explicação: Gabriel e os demais estudantes da professora Tiffany Lima pesquisaram sobre animais e plantas durante o projeto ‘Interação entre fauna e flora no Cerrado’. Eles inventaram fábulas e brinquedos usando materiais recicláveis. Além disso, plantaram mudas de espécies nativas e experimentaram os diferentes sabores do bioma. Todo esse conhecimento foi construído de forma lúdica e compartilhado também com outras pessoas.

“Quando a gente expôs os frutos do Cerrado na feira de ciências, o cajuzinho-do-cerrado logo acabou, mas a cagaiteira ninguém queria provar”, diverte-se Gabriel ao lado dos amigos, referindo-se ao efeito laxante desse fruto. A brincadeira é, também, uma demonstração do quanto as crianças se apropriaram do conhecimento.

Outro exemplo foi o da estudante Agatha Loize Andrade, que pesquisou sobre o suiriri – um grupo de aves comuns no Cerrado – e, depois, ficou encantada de identificá-lo em um passeio no parque com a família. “Fiquei muito feliz de ter aprendido sobre a convivência com o Cerrado”, afirma a menina. Já o estudante David Neves, que optou por estudar peixes do bioma, foi questionado sobre essa escolha. “O Cerrado é o berço das águas, as principais nascentes estão aqui”, defendeu.

 

Fig 7. Alunos criaram modelos de animais e plantas do Cerrado, além de expor frutos naturais. Crédito: Divulgação/Acervo pessoal dos professores

 

De acordo com Tiffany, a evolução dos estudantes no cuidado com o Cerrado foi significativa. “Antes das informações em si sobre animais e plantas, o que eu queria mostrar para eles, de fato, era a importância do Cerrado e de protegê-lo”, acrescenta.

Terceiro lugar na categoria ‘Educação Fundamental – Anos Iniciais’ do Circuito de Ciências das Escolas Públicas do DF, o projeto proporcionou o aumento da consciência ambiental não apenas nos estudantes. “As atividades despertaram neles esse cuidado com o Cerrado, inclusive levando o tema para dentro de casa e conversando com as famílias”, diz a professora Tiffany. Ela conta que também aprendeu muito com o projeto. “Foi realmente uma troca. Aprendi [sobre] um cuidado com o meio ambiente que, muitas vezes, eu não colocava em prática. O projeto me fez refletir: se eu estou ensinando, eu tenho que dar o exemplo”, finaliza Tiffany, que trabalhou em parceria com a professora Débora Meireles.

Por Núcleo de Educação e Humanidades em Saúde (Jacarandá) da Escola de Governo Fiocruz – Brasília

Data Publicação: 30/04/2025