Fig 1. Digitalização de processos é um dos primeiros passos para incorporação da inteligência artificial no sistema de saúde. Créditos: Getty Images

 

Saiba por que a inteligência artificial no SUS já é uma realidade e os principais desafios que isso traz

Esse texto faz parte de uma série de conteúdo publicados pelo Museu da Vida Fiocruz por ocasião da MuseumWeek 2025, inspirado pela hashtag #iamuseus.

 

Inteligência artificial no SUS? Parece até coisa do futuro, mas, na verdade, ela já é uma realidade na saúde pública do Brasil. Pode esquecer o ChatGPT, pois estamos falando de algo bem diferente! Na verdade, a IA vem trazendo mais rapidez e eficiência para várias áreas da saúde, como centros de pesquisas e unidades hospitalares. Vamos descobrir como isso acontece?

 

Calma! Máquinas não trabalham sozinhas

Inicialmente, é importante lembrar que o fato de já existir inteligência artificial (IA) no Sistema Único de Saúde (SUS) não significa que um computador é capaz de fazer diagnósticos sozinhos. Ou seja, as máquinas não podem determinar, por exemplo, se uma pessoa está tendo um ataque cardíaco. Também não cabe à tecnologia a função de direcionar por conta própria para onde um paciente deve ser encaminhado.

A inteligência artificial é um conjunto de ferramentas tecnológicas que, no campo da saúde pública, ajudam a agilizar processos internos dos hospitais e outras unidades de atenção. A IA é capaz de melhorar a qualidade e a rapidez do atendimento, mesmo que o paciente não perceba diretamente.

Além disso, as ferramentas de IA auxiliam no diagnóstico e no tratamento das doenças, sem jamais substituir o papel essencial do médico, do enfermeiro e dos outros profissionais da saúde.

Quando pensamos no SUS, a inteligência artificial surge como uma grande aliada. Ela pode ajudar desde coisas simples, como renovar uma receita médica rapidamente, até questões complexas, como acessar, em segundos, o histórico médico completo de uma pessoa.

 

Fig 2. Algumas redes que prestam consultoria à distância no diagnóstico e na avaliação de resultados de exames já usam IA. A ferramenta diminui a chance de erros na execução do exame e agiliza o processo. Crédito: Getty Images

 

Base de dados potencializa o uso da inteligência artificial no SUS

De acordo com Paula Xavier, doutora em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ) e diretora do Departamento de Informação e Informática do SUS (DataSUS), o Brasil tem uma grande vantagem para usar IA. Graças à Reforma Sanitária Brasileira, iniciada na década de 1970 e que resultou na criação do SUS em 1988, o país consegue coletar e armazenar informações importantes de cada atendimento feito na rede pública de saúde.

“Cada usuário que utiliza o SUS gera um registro de informação. Portanto, a possibilidade de a inteligência artificial ter acesso a esses dados faz com que o Brasil saia na frente de outros países por ter essa grande base de dados”, afirma Paula ao Invivo.

 

Quais os principais desafios do uso da inteligência artificial no SUS?

Apesar de ser um campo promissor, ainda existem muitos desafios pela frente. Segundo Xavier, questões éticas devem ser levadas em consideração na hora de armazenar os dados dos pacientes. “Dados de saúde são pessoais e sensíveis porque podem levar informações sobre aspectos de vulnerabilidade de um cidadão”, comenta.

Para a especialista, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) — Lei nº 13.709/2018 trouxe um avanço para o campo, mas a área da saúde ainda precisa de legislações específicas para o tratamento dos dados.

Outro desafio importante destacado por Xavier é a integração dos dados entre o sistema público e as instituições privadas. Muitos pacientes utilizam tanto o SUS quanto redes particulares, como planos de saúde e laboratórios, que protegem seus dados por motivos comerciais.

A falta de compartilhamento desses dados cria dificuldades para uma integração completa e eficaz das informações necessárias para a implementação plena da IA no SUS.

 

Fig 3. Registro da 8ª Conferência Nacional de Saúde no Brasil, realizada em 1986, na qual foram debatidas as bases para criação do SUS. Crédito: Governo brasileiro/Wikimedia Commons

 

Brasileiros criam ferramenta para registro de pesquisas clínicas

Outra novidade tecnológica que promete contribuir para melhorar a ciência no país é a Rebec@. A ferramenta que usa IA foi criada pelo Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (ReBEC), uma plataforma virtual desenvolvida em colaboração com o Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde (DECIT/MS), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A plataforma é administrada pela Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB) da Fiocruz.

A Rebec@ fará o registro e a revisão de pesquisas clínicas realizadas por brasileiros e estrangeiros. Ela funcionará como um programa que simula uma conversa, ou seja, ela permitirá que pesquisadores façam perguntas e obtenham respostas sobre procedimentos. A tecnologia criada pelo ReBEC é poliglota, isto é, consegue se expressar em várias línguas.

“O ReBEC é uma plataforma para registro de informação de pesquisas com seres humanos. Sendo assim, ele existe para dar transparência a esse tipo de informação, que é bem sensível, mas é vital para a colaboração científica”, explica Luiza Silva, coordenadora do programa, em entrevista para o perfil oficial da Fiocruz no Instagram. “O impacto na prática da Rebec@ é fácil de ser percebido, pois o tempo de atendimento dos profissionais será otimizado como a gente nunca teve oportunidade antes”, finaliza.

 

Fig 4. Estudos clínicos são pesquisas conduzidas com seres humanos que buscam avaliar os efeitos de novos tratamentos, medicamentos ou procedimentos terapêuticos. Crédito: Getty Images

 

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Fontes consultadas:

Brasil. Ministério da Saúde. Ministério da Saúde abre chamada pública para uso de Inteligência Artificial no SUS. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/outubro/ministerio-da-saude-abre-chamada-publica-para-uso-de-inteligencia-artificial-no-sus. Publicado em: 16 out 2023.

Brasil. Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/sus

Zolin, Beatriz. Inteligência Artificial na saúde pública: o que os hospitais do SUS já estão usando? Drauzio Varella. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/saude-publica/inteligencia-artificial-na-saude-publica-o-que-os-hospitais-do-sus-ja-estao-usando/. Publicado em: 24 set 2024.

Sampaio, Fabiana. Rádio Nacional. Fiocruz lança inteligência artificial para pesquisas clínicas. Agência Brasil. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/inovacao/audio/2025-03/fiocruz-lanca-inteligencia-artificial-para-pesquisas-clinicas. Publicado em: 24 mar 2025.

Oficial Fiocruz. Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/reel/DHv8zfnsPCm/. Publicado em: 28 mar 2025

*Todos os sites foram acessados em 27 de maio de 2025.

 

Por Rodrigo Narciso

Data Publicação: 02/06/2025