Figura 1: Céu estrelado no Santuário do Caraça, em Minas Gerais. Você consegue encontrar o Cruzeiro do Sul nessa imagem? Créditos: Adriano Ferreira / Flickr

 

Conheça, no primeiro artigo da coleção Os Mensageiros das Estrelas para o Invivo, o Cruzeiro do Sul

Este texto é uma adaptação da coleção Os Mensageiros das Estrelas, do Museu da Vida Fiocruz. Você pode conferir este e outros conteúdos da coleção no site!

 

Nossa missão de hoje nos levará até uma das constelações mais famosas do hemisfério sul, o Cruzeiro do Sul. No Brasil, ela é facilmente visível na primeira parte da noite entre os meses de fevereiro a junho, em todo o país. Nos outros meses, é possível observá-la em diferentes horários ao longo das noites.

 

O Cruzeiro do Sul indica a direção sul

Os séculos 15 e 16 foram o período das grandes navegações pelos hemisfério sul. Naquela época, os navegadores observavam a posição das estrelas para saberem sua localização em alto mar. Para navegar ao redor do mundo, era necessário olhar o céu. O próprio Cruzeiro do Sul é um grande instrumento de localização celeste, pois o “pé da cruz” sempre aponta para um ponto do céu muito especial, o Polo Sul Celeste.

 

Figura 2. Ilustração inspirada no Cruzeiro do Sul. Créditos: Caio Baldi (Os Mensageiros das Estrelas: Constelações – Volume 1)

 

Fique esperto, porque nem sempre vemos a cruz “em pé” no céu! De acordo com o local, a data e o horário da observação, a cruz pode estar “inclinada, deitada” ou até quase “de cabeça para baixo” no céu. Na dúvida, dá uma olhada nessa matéria do InVivo e veja como identificar o Cruzeiro do Sul e usá-lo para encontrar o ponto cardeal Sul.

 

Afinal, o que é uma constelação?

Segundo a União Internacional de Astronomia, as constelações são regiões do céu. Cada uma dessas regiões contém um grupo de estrelas que parece formar uma figura imaginária, como uma cruz, por exemplo. Ao todo, existem 88 constelações e o Cruzeiro do Sul é a menor delas. Mas tamanho não é documento! Além de indicar o lado Sul, a constelação contém verdadeiros tesouros celestes!

 

Figura 3. Ilustração representado a constelação do Cruzeiro do Sul (em vermelho). O desenho da cruz facilita a observação das principais estrelas. Créditos: Planetário Stellarium

 

Você já reparou que o céu parece mais estrelado em locais afastados das luzes e da poluição das grandes cidades? Em locais assim, é possível ver várias outras estrelas da constelação ao redor da “cruz”. Porém, em áreas urbanas, em geral, temos de nos contentar em ver apenas as cinco estrelas mais brilhantes mostradas na figura a seguir.

 

Figura 4. Mesmo nas cidades, em geral é possível reconhecer as quatro estrelas que constituem a cruz imaginária, além da famosa estrela Intrusa ou Intromedita.

 

Alfa do Cruzeiro do Sul, a Base da Cruz (Acrux)

Acrux também é conhecida como estrela de Magalhães, em homenagem ao navegante português Fernão de Magalhães. Ela é a 13ª estrela mais brilhante no céu noturno, de brilho azulado.

Aqui da Terra, temos a impressão de que a Acrux é uma estrela apenas. Porém, o brilho que vemos vem de, pelo menos, três estrelas que, do nosso ponto de vista, parecem estar próximas entre si.

 

Beta, A Mimosa do Cruzeiro do Sul

Nós que estamos na Terra vemos a Beta do Cruzeiro do Sul (chamada de Mimosa) como uma estrela azulada, a 20ª estrela mais brilhante do céu noturno. Porém, com a ajuda de um bom telescópio, percebemos que o brilho da Mimosa, na verdade, vem de duas estrelas próximas entre si.

 

Gacrux, A Estrela Rubra

A estrela Gama do Cruzeiro do Sul, Gacrux, é fácil de identificar, pois é a ponta superior da cruz e possui cor avermelhada. Foi apelidada de Rubídia, a Estrela Rubra. É uma supergigante vermelha com diâmetro 84 vezes maior que o diâmetro do Sol. Apesar do tamanho gigantesco, sua superfície é mais “fria” que a do Sol – para uma estrela, é claro! É a 25ª estrela mais brilhante no céu noturno. Dentre as estrelas que formam a cruz, é a mais próxima da Terra: está a “apenas” 89 anos-luz.

 

Delta, a Estrela Pálida do Cruzeiro Do Sul

Para a União Internacional de Astronomia, a estrela Delta do Cruzeiro do Sul é chamada de Imai. Aqui no Brasil, é popularmente conhecida pelo nome de Pálida, pois é a de o menor brilho dentre as estrelas principais visíveis da constelação.

A Pálida é uma estrela subgigante de cor azul, o que significa que a temperatura de sua superfície é extremamente elevada. E o seu diâmetro é “apenas” 3,5 vezes o diâmetro do Sol.

 

Ginan, uma estrela intrometida

A estrela Épsilon do Cruzeiro do Sul, Ginan, é mais conhecida como Intrometida. Ginan tem um papel importante, pois ela ajuda a identificar o Cruzeiro do Sul. Ao olhar o céu, podemos imaginar e inventar diferentes cruzes com os grupos de estrelas, mas só o verdadeiro Cruzeiro tem uma estrela Intrometida a seu lado! Ginan é uma estrela do tipo gigante, com uma cor que varia de laranja a vermelho.

 

Uma grande área escura: a Nebulosa do Saco de Carvão

Longe das cidades, é possível perceber que o céu possui regiões escuras, onde não vemos estrelas. O Cruzeiro do Sul possui uma dessas regiões bem ao seu lado, chamada Saco de Carvão. Veja a foto a seguir (dica, o Cruzeiro do Sul aparece “deitado” da imagem!).

 

Cruzeiro do Sul e Saco do Carvão. Créditos: Naskies (Dave) / Wikimedia Commons

 

O Saco do Carvão é uma nebulosa escura, uma grande nuvem interestelar. No meio dessa “nuvem” escura, a poeira cósmica e gases absorvem e escurecem a luz das estrelas que vêm do céu profundo. O Saco de Carvão é uma nebulosa notável porque se destaca contra o fundo brilhante da Via Láctea.

Os astrônomos descobriram que o Saco de Carvão, na verdade, é formado por duas nuvens de poeira sobrepostas a uma distância de 610 e 790 anos-luz.

 

Uma caixa de joias

Perto da estrela Mimosa, existe uma região brilhante que parece um amontoado de estrelas. Vamos chegar mais perto? As fotos a seguir mostram sucessivas ampliações dessa pequena região do céu.

 

Figura 5. Sequência de imagens de uma região do céu na constelação do Cruzeiro do Sul. O quadrado branco indica a região a ser ampliada na foto seguinte. Créditos: ESO, NASA / ESA / Wikimedia Commons

 

Os astrônomos chamam esses amontoados de aglomerados de estrelas, ou seja, um grupo bem grande de estrelas que estão na mesma direção do céu. Este grupo perto da Mimosa é chamado de Aglomerado Kappa Crucis, catalogado com o nome de NGC 4755. Mas, popularmente, é conhecido como a Caixinha de Joias do Cruzeiro do Sul. Longe das luzes da cidade e com um bom binóculo, é possível ver este espetáculo brilhante semelhante a pequenas pérolas reluzentes.

É um aglomerado “jovem”, com cerca de 10 milhões de anos. Contém poucas estrelas, com um pouco mais de 100 estrelas. Uma grande parte delas é azulada.

As estrelas desse aglomerados estão no chamado céu profundo, a distâncias gigantescas, cerca de 6.400 anos-luz da Terra. Isso significa que a luz que vemos e que chega até nos hoje foi emitida pelas estrelas desses aglomerado antes mesmo da construção das Grandes Pirâmides do Egito.

 

Desafio Cultural: Cruzeiro do Sul, um símbolo nacional

A constelação do Cruzeiro do Sul é um símbolo de diversas nações, sendo representada em bandeiras de países, tais como Austrália, Brasil, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné e Samoa.

Na bandeira do nosso país, cada uma das cinco estrelas principais representa um estado brasileiro. Ela também está presente na bandeira da zona de comércio do Mercosul e, desde 2015, no passaporte brasileiro. Ela aparece ainda na letra do Hino Nacional, que diz: “se em teu formoso céu, risonho e límpido / a imagem do Cruzeiro resplandece”.

E aí, você consegue identificar o Cruzeiro na bandeira do Brasil? Dica: a constelação está em posição invertida (espelhada) em relação ao que vemos no céu.

 

Figura 6: Bandeira do Brasil. E aí, já achou o Cruzeiro do Sul?

 

Que tal testar seus conhecimentos sobre o Cruzeiro do Sul em um game super divertido? No quiz criado pelos planetaristas da coleção Os Mensageiros das Estrelas, você pode aprender tudo sobre a constelação… Brincando! O jogo é gratuito, com acesso direto pelo navegador (não precisa baixar nada!).

 

Referências:

ACRUX (Alpha Crucis) star facts. In: UNIVERSE Guide, [S. l.: s. n., 20–]. Disponível em <https://www.universeguide.com/star/60718/acrux>. Acesso em 10 set 2020.

ACRUX, In: STAR facts, a guide to the night sky. [S. l.: s. n., set. 2019.]. Disponível em <https://www.star-facts.com/acrux/>. Acesso em 10 set 2020.

BELETSKY, Yuri. NASA, The Milky Way Near the Southern Cross. In: Astronomy Picture of the day, APOD. [S. l.: s. n.], May, 2007. Disponível em https://apod.nasa.gov/apod/ap070517.html. Acesso em 10 set 2020.

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VENTRUDO, Bryan. The Coalsack Nebula. One Minute Astronomer. [S. l.], Jul, 2010. Disponível em https://oneminuteastronomer.com/2036/coalsack-nebula/. Acesso em 10 set 2020.

 

Por Leonardo Pereira de Castro e Rafaela Ribeiro da Silva, sob supervisão de Paulo Henrique Colonese. Adaptado por Tereza Costa para o Invivo.

Data Publicação: 01/02/2023