Por: Fernanda Marques/CCS-Fiocruz

Tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier)

Tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier)

O litoral brasileiro, em toda a sua extensão, é muito rico em tubarões, abrigando mais de 80 espécies desses animais tão temidos pela maioria das pessoas. É verdade que o tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) e o cabeça-chata (Carcharhinus leucas), comuns no Nordeste, são bem perigosos. Porém, não há motivo para pânico, pois os animais que vivem perto da praia, em geral, não atacam as pessoas. O cação-lixa (Ginglymostoma cirratum), também encontrado no litoral nordeste, o pequenino cação-frango (Rhizoprionodon lalandii) e o tubarão-martelo (Sphyrna sp.), presentes na costa sul e sudeste, são reconhecidamente inofensivos, assim como muitas outras espécies.

Mas se tantas espécies são inofensivas, então por que os ataques de tubarões a banhistas se tornaram mais frequentes nos últimos anos? Com os avanços tecnológicos, a ocupação do mar pelo homem aumentou e, infelizmente, a poluição dos ambientes marinhos também cresceu. “Estudos recentes sugerem que, nas regiões altamente degradadas pelo homem, os tubarões atacam as pessoas devido à falta de alimentos”, comenta o biólogo Otto Bismarck Fazzano Gadig, especialista em tubarões da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São Vicente.

Modelo de tubarão-branco

Modelo de tubarão-branco

Existe ainda a hipótese segundo a qual a intensa ação do homem no mar perturbaria os tubarões, levando esses animais a confundirem os seres humanos com suas presas naturais, como peixes e tartarugas. Entre os animais que mais atacam o homem, destaca-se o tubarão-branco (Carcharodon carcharias), típico das águas frias de Estados Unidos, África do Sul e Austrália.

“Nem sempre é fácil entender porque os tubarões atacam as pessoas”, diz Gadig. Por isso, ao avistar um tubarão na praia, procure sair da água, mas não faça movimentos bruscos. “As vibrações produzidas pelo seu corpo na água podem fazer com que o tubarão fique mais interessado em você do que normalmente ele estaria”, explica. Em caso de acidente, enquanto aguarda a chegada dos médicos, remova a vítima da água com cuidado, identifique suas lesões e tente diminuir a perda de sangue. “A maioria das vítimas morre por perda de sangue e não diretamente pelo traumatismo”, afirma. “É interessante também manter a região do ferimento em um nível mais alto que o da cabeça, para garantir ao máximo o fluxo de sangue para áreas vitais, como cérebro e coração”, acrescenta.

Eles precisam de ajuda

As pessoas dizem se sentir ameaçadas pelos tubarões, mas esquecem que esses animais também têm motivos para temer o homem. A pesca industrial, por exemplo, captura grande quantidade de tubarões e, como a velocidade de reprodução desses animais não permite que eles repovoem a área antes da próxima pescaria, o tamanho das populações se torna cada vez menor. “Além disso, a poluição da água e a ocupação desordenada da faixa costeira destroem o habitat dos tubarões e eliminam áreas usadas como berçários por esses animais, afetando o desenvolvimento e o ciclo biológico das espécies”, lamenta Gadig.

Os tubarões estão no ápice da cadeia alimentar, pois se alimentam de uma grande variedade de animais marinhos, de caranguejos e peixes a tartarugas, golfinhos e baleias. “Caso os tubarões sejam eliminados, haverá um desequilíbrio ecológico e a abundância de diversos animais marinhos será afetada”, explica Gadig. Certos peixes de elevada importância econômica para o homem podem, inclusive, ter suas populações significativamente reduzidas.

Tubarão-de-Recife das Caraíbas

Tubarão-de-Recife das Caraíbas

Portanto, Gadig defende que os meios de comunicação, em vez de só divulgarem os acidentes causados pelos tubarões, se empenhem em alertar a população sobre a necessidade de se preservar esses animais. “Mesmo nos dias de hoje, em que existem movimentos ecológicos mundiais a favor dos tubarões, a mídia divulga muito mais o lado negativo destes animais, ou seja, os ataques”, afirma. De acordo com o biólogo, o fato de as pessoas terem medo dos tubarões dificulta a adoção de medidas para conservar esses animais. “E a opinião pública tem um peso importante na tomada de decisão de muitos órgãos governamentais”, lembra.

Os temidos seres do mar

Tubarões-touro (Carcharias taurus)

Tubarões-touro (Carcharias taurus)

Assim como os peixes, os tubarões retiram o oxigênio da água através de brânquias, órgãos respiratórios em forma de pente. Porém, enquanto o esqueleto dos peixes é formado por tecido ósseo, o dos tubarões tem estrutura cartilaginosa.

Existem mais de 400 espécies de tubarões, com tamanhos, cores, hábitos e biologia muito diferentes. “Algumas espécies, como o tubarão-anão (Squaliolus laticaudus), têm apenas 30 centímetros de comprimento, enquanto outras, como o tubarão-baleia (Rhincodon typus), chegam a crescer até 20 metros”, afirma Gadig.

Na reprodução, o macho lança o esperma dentro do aparelho reprodutor da fêmea, da mesma forma como acontece nos mamíferos. “O filhote pode se desenvolver de diferentes maneiras. Em alguns casos, a mãe coloca ovos, mas, em outros, o filhote passa toda a gestação dentro do organismo materno”, diz o biólogo.

Como os tubarões são animas marinhos e, em geral, de grande porte, estudá-los é uma tarefa difícil que depende de infraestrutura complexa. “Essa tarefa se torna especialmente complicada no Brasil, onde não existe muito dinheiro disponível para pesquisa”, lembra Gadig. Para investigar o comportamento dos tubarões em seu ambiente natural, por exemplo, é necessário o uso de equipamentos subaquáticos específicos, que têm custo elevado. “Por isso, a maioria dos estudos sobre tubarões ainda se baseia em exemplares mortos coletados junto aos pescadores. Desses animais, são removidas as vísceras para pesquisas sobre alimentação e reprodução, entre outras.”

Foto1: Tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier). Pedro N. Duarte/APECE

Foto 2: Modelo de tubarão-branco (Carcharodon carcharias). Thomas Winkler/APECE

Foto 3: Doug Perrine/APECE

Foto 4: Tubarão-de-Recife das Caraíbas (Carcharhinus perezi). João P. Correia/APECE

Foto 5 : Tubarões-touro (Carcharias taurus). Jardim Zoológico de Lisboa/APECE

Data Publicação: 26/11/2021