Por: Irene Cavaliere

Ilustração: Renan Alves

Ilustração: Renan Alves

Transtornos emocionais ou internalizantes

– Transtorno de ansiedade de separação: normal nos primeiros anos de vida, a ansiedade de separação é mais comum antes da puberdade, entre 7 e 9 anos. A criança demonstra preocupações persistentes, irreais e exageradas com os pais ou consigo mesma, pesadelos, resistência para ir à escola, dormir sozinha ou fora de casa, raiva, choros, queixas de dores de barriga ou de cabeça, enjoos etc.

– Fobias simples ou fobias sociais: ambas são mais frequentes antes da puberdade. Fobias simples são caracterizadas por medos intensos, resistência, antecipação ansiosa ou angústia dirigidas a um objeto ou situação, limitando a vida social da criança. Geralmente, envolvem animais, escuro, tempestades, altura ou procedimentos médicos. Já as fobias sociais (ou transtorno de ansiedade social) se caracterizam pela evitação marcante de contato com pessoas não-familiares, mesmo as da mesma idade, e grande angústia em situações sociais.

– Transtorno de ansiedade generalizada: mais comum na adolescência, envolve preocupações constantes sobre comportamentos passados, atuais ou eventos futuros, competência e desempenho. Isso leva a sensações permanentes de tensão, insegurança, necessidade de reafirmação frequente e queixas de dores de cabeça e estômago, náuseas, tensão muscular ou dificuldades para dormir.

– Quadros depressivos: mais frequentes na adolescência, podendo também aparecer na infância. Na infância, pode-se observar recusa ou relutância em ir para a escola, irritabilidade e sintomas físicos variados, como dor abdominal e de cabeça, náuseas e vômitos. Na adolescência, perturbação do sono e do apetite, culpa e falta de esperanças são os sintomas mais comuns. Nesses quadros, há o risco de suicídio, mais grave em adolescentes, principalmente quando outros problemas estão associados, como o abuso de álcool e drogas.

Transtornos disruptivos ou externalizantes

– Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: Existem três formas básicas desse tipo de problema. A forma predominantemente desatenta é mais comum nas meninas: é a diminuição na capacidade de manter o foco da atenção por períodos prolongados. A forma predominantemente hiperativa/impulsiva é mais comum em meninos, havendo inquietude motora ou fala em exagero em diversas situações. Por fim, na forma combinada, há a presença de desatenção, hiperatividade e impulsividade em graus variados. Esses problemas devem estar presentes antes dos 7 anos. O transtorno é mais comum para o sexo masculino, na proporção de três meninos para cada menina.

Esse tipo de distúrbio ganhou grande visibilidade recentemente, e toda hora ouvimos dizer que “tal criança é hiperativa”. No entanto, o psiquiatra Rossano Cabral Lima esclarece que nem toda desatenção ou hiperatividade deve ser considerada patológica. “O constante desvio do olhar em direção a diferentes estímulos e objetos do ambiente e a maior movimentação motora são comuns, especialmente em crianças pequenas. À medida que crescem, esses traços muitas vezes vão ficando mais leves. Além disso, é preciso ressaltar que crianças pouco ativas ou exageradamente concentradas num só estímulo não são necessariamente mais saudáveis. Por outro lado, o déficit de atenção que aparece apenas nas tarefas escolares e a hiperatividade que só aparece em casa ou na presença dos pais são provavelmente relacionados a problemas específicos na escola ou na família, que devem ser investigados”.

– Transtorno de conduta: geralmente diagnosticado em torno da puberdade, caracteriza-se por comportamentos persistentemente ameaçadores ou agressivos dirigidos a pessoas ou animais, danos a propriedades, roubos, trapaças, fugas de casa e outras violações de regras sociais. “Esse quadro envolve determinantes sociais (econômicos, familiares) importantes, e não deve ser usado como ‘rótulo’ psiquiátrico, nem encarado como uma doença localizada apenas na criança”, adverte o psiquiatra Rossano Cabral Lima.

 Transtorno opositivo desafiador: normalmente diagnosticado em crianças com menos de 9 anos. Diferentemente do transtorno de conduta, em vez de comportamentos antissociais e violentos, a criança recusa-se a obedecer às regras impostas pelos adultos, demonstrando posturas desafiadoras ou hostis e comportamentos incômodos deliberados, associados também à raiva ou irritabilidade e humor ressentido ou vingativo. Como esclareceu o psiquiatra, esse transtorno também “não deve ser usado como rótulo fácil para crianças difíceis, nem deixar em segundo plano a análise dos fatores psicodinâmicos da relação entre a criança e os pais”.

Transtornos alimentares

– Anorexia nervosa: é um quadro que se inicia tipicamente entre os 13 e os 18 anos, predominando no sexo feminino, numa proporção de 10 mulheres para cada homem. Suas principais características são a busca deliberada pela magreza e o medo intenso de ganhar peso, levando a paciente a restringir sua alimentação e a buscar métodos purgativos, como a indução do vômito e o uso de laxativos e diuréticos. Outro traço fundamental são os distúrbios da imagem corporal, ou seja, a impressão distorcida de seu próprio corpo, o que leva a infinitas restrições alimentares, já que a paciente sempre avalia que ainda há gordura a perder.

– Bulimia nervosa: atinge predominantemente o sexo feminino (90% dos casos ocorrem em mulheres), e o início costuma ocorrer entre os 12 e os 25 anos (o pico de incidência é aos 18 anos). Aqui há um impulso irresistível de comer em excesso, seguido de indução de vômitos ou uso de purgantes ou laxantes. Na maior parte do tempo, a pessoa está pensando em comida e com medo de engordar. Geralmente, o peso está próximo ao normal. É comum haver depressão associada ao problema, e características de anorexia e bulimia podem vir juntas.

Data Publicação: 01/12/2021